segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Para a Manu ler (6)



 Manu, como assim? Como assim você está fazendo 1 ano? Não foi ontem, que você nasceu às 17h55, com 2,870kg e 48 cm, vindo pra mim num abraço bem quentinho? 

Não, foi ontem sim. Porque eu me lembro dos mínimos detalhes... De estar sentindo contração na casa dos seus avós, pois seu papai estava de serviço e não queria que eu ficasse sozinha... Passei umas 6h morrendo de dor, mas achando que não estava em trabalho de parto. Quando não aguentei mais, liguei pro seu pai e fui acordar seus avós. Fui pra casa bem cedinho e comecei a sentir menos dor... Mandei mensagem pra Dra Tatiana, que eu não conhecia... Meu obstetra estava viajando, mas eu tinha tanta certeza que você ia esperar, filha, que nem fui conhecer a doutora antes... Mas, há 1 ano fui... Ela pediu pra me ver quando comentei das dores e não deu outra: 5 cm de dilatação. 

Passamos em casa, pegamos as coisas e fomos à maternidade. A doutora quis induzir o parto, já que as contrações tinham parado. Quando começou, Senhor! Muita, muita dor, mais do que de madrugada! Uma atrás da outra, sem intervalo nem de 2 min. Pedi a cesárea, a médica disse pra eu tentar anestesia (coisa linda de Deus). Nossa, voltei a ser um ser humano após isso. Novo toque: 8 cm! Graças a Deus, menos de 3 h de indução. Mais um pouco, e você estava nos meus braços, seu pai te vendo a primeira vez e dizendo: “ela é branca”... E, assim, começávamos nossa jornada a 3...

Um filme se passa em minha cabeça: a alegria de ver que você nasceu magrinha, mas mais gordinha do que esperávamos, já que pelo ultrassom você não estava querendo engordar muito na barriga; a segunda noite na maternidade (que desespero, a pior noite de todas até hoje); nossa luta pro seu ganho de peso (que até hoje é um fantasma para mim), mas a alegria em saber que, mesmo não estando na curva, você se desenvolve e sua pediatra e seu pai não se preocupam com isso (uai, qual o problema se você quer ser modelo, né?).

O ensaio newborn que não deu certo porque você não dormiu hehehe; as noites te acordando para mamar; as muitas saídas de casa e seus choros porque não gostava do bebê conforto; a candidíase mamária quando você fez 1 mês; as vacinas e suas febres, que cortavam meu coração; a confirmação da APLV (alergia à proteína do leite de vaca) e minha dieta de restrição de leite e derivados que já se estende por mais de 10 meses; a primeira mastite, minha internação com você, a segunda mastite, os muitos ductos entupidos; o tratamento no Hmib e nossas muitas idas lá; nossa viagem à Fortaleza. 

A pandemia, que mexeu com meus muitos planos durante a licença maternidade, mas que em compensação me deixa trabalhando  pertinho de você; sua introdução alimentar, as muitas marmitas, as muitas idas de seu pai ao mercado após 24h de serviço pra comprar o máximo que podia de orgânicos; a alegria de ver você comer de tudo (mesmo coisas que eu não como de jeito nenhum); o segundo almoço, que tivemos de introduzir para ter mais aporte calórico e que quase nos enlouqueceu hehehe; a suspensação dele 3 meses depois e a volta à vida normal (como é bom te dar só café da manhã, 1 almoço, 1 lanche e 1 janta); ver você abrindo todas as gavetas e bolsas e tirando tudo (a parte de aprender a arrumar tem que ser trabalhada hehe), muito mamázinho (graças a Deus) e você me dando a mãozinha enquanto isso. 

Maneca Pipoca, Manusguela, Manuscleida, Pituca, Pitucats, Pituquinha, Linduca, Lindeca, Lindeza, Malavilosa, Jacarezinha, Branca de Neve, Munita, Manu, Ma-nu-e-ela (quando você apronta)... Mamãe te chama de tantas coisas... Você ama fios, sapatos, não pode ouvir uma música que já começa a dançar; é muito sorridente, não estranha as pessoas e vai com todos; ama cachorro (pro meu desespero hehe); come de tudo, mas ama banana, mamão e açaí; quando chora, chora com gosto, alto e com muitas lágrimas (desde que nasceu); já sabe dar birra e aprendeu a cuspir comida, me deixando sem saber se rio ou morro de raiva; gosta de ficar na cozinha observando a mamãe arrumar tudo, pegando o paninho e limpando a cadeira. Você fala alto, põe tudo que vê na boca, vira nosso rosto para pegar o brinco, tem muita força e tem 8 dentes. Tem horas que é impossível trocar sua fralda.

Quem me nota, vê a mesma Lívia. Mas eu me sinto outra pessoa. Você me transformou e eu me transformei por você. Você me fez mais forte, mais dura pra dor, mais madura, me ajudou a fazer as coisas mesmo com pouco tempo e com muito cansaço, me fez começar a matar pecados de estimação que estavam aqui há anos. Por você, eu estudo mais, aprendo sobre coisas de que não gosto, tipo sobre alimentos e seus benefícios. Por você eu cozinho, lavo louça e varro a casa todo dia, faço cultinho pulando nas músicas, mesmo cansada... 

Nenhum trabalho é maior que a alegria de ver você se desenvolvendo: rolando, sentando, se arrastando, engatinhando, dando os primeiros passos, aprendendo a cair e levantar, a falar, dar tchau, bater palmas, chamar seu “dadai” o dia todo... É lindo ver a alegria que você leva aos seus avós, foi lindo ver seu pai se tornar um grande pai, e ver você virar sua maior puxa-saco; você batendo palma toda vez que cantamos parabéns... E, a minha parte preferida: ver seu sorriso aberto pra gente desde de manhã até a hora de dormir.

Eu te amo! Feliz aniversário! O aniversário é seu, mas o agradecimento sempre será a Deus: por sua vida, pelas dificuldades, pela força durante este ano... um ano difícil, sim, mas de muito crescimento. Glória a Ele que nos permitiu chegar até aqui, dando nossa família e amigos como rede de apoio. 

Foi muita oração de madrugada, de dia, de tarde, de noite... Muito choro, muito desespero... Tiveram dias em que tinha muito medo de ficar sozinha com você, mas Deus fortaleceu... Tiveram dias em que ia sair sozinha com você de carro e ficava tão tensa... Mas passou. Tiveram dias em que estava tudo bem e parecia que eu queria arrumar problema. Tiveram dias em que você não queria comer, enrolava muito, e eu me desesperava e tinha muita raiva. Mas preciso me controlar e te dar o exemplo.

Aprendi a comemorar cada pequena vitória e ser mais grata por cada detalhe. Aprendi a julgar menos, ser mais compreensiva com as mães, tentar não entrar na guerra das mães, ora me sentindo super mãe, ora me sentindo um lixo de mãe... Tento ser apenas mãe, sua mãe, e fazer o melhor que eu posso. Fácil, nunca é. Ser mãe, esposa, dona de casa, amiga, filha, profissional... São muitos pratos a equilibrar... E tem dias que todos caem e eu me desespero... 

Mas sei que tenho seu pai, você, e, acima de tudo, Deus pra me dar suporte. Tiveram dias em que acordava e pensava: nossa, há tanto para fazer... que sono. E Deus vinha, dava ânimo, mesmo naquele domingo à tarde em que costumava tirar aquela soneca compriiiiida... Mas que agora há tanto para se fazer e dormir não está na lista. E que bom por isso. 

Sim, você fez 1 ano... Passou tão rápido, passou tão devagar... Tanto desespero, tanto amor, tanto paradoxo. Obrigada, Deus, pelo meu presente chamado Manuela. Meu 24 de outubro nunca mais será o mesmo... Acordei nesse dia pensando em como será daqui uns anos, você esperando a surpresa que faremos, seu sorriso ao abrirmos seu quarto, você correndo nas festinhas... 

Mas “bora” viver o agora... Que, se Deus quiser, sua vida está só começando... E quero escrever muito sobre isso, de mãos dadas com você!