segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Eu não sou papelaria não!

- Tiaaaaaaaaaaaaaa. Não tenho lápis de escrever. Me emprestaaaaaaaaaaaaaaaaaa?

Se você é professora, ainda mais de rede pública, já ouviu essa pergunta pelo menos umas 50 mil vezes. Logo, esse conto é para você...

---

- Tia?
- Que foi, menino?
- Esqueci meu lápis de escrever. Me empresta?
- Ah, que novidade! Como sempre, né, Luiz Augusto. Vai, pega, todo dia é a mesma coisa! Eita, menino, eu não sou papelaria não, viu?

No dia seguinte...

- Tiaa?
- Que que é?
- Você me deu a atividade.
- Hum, e daí?
- Tem que ter tesoura.
- Eu sei.
- Então, tia, eu não tenho. Me empresta?
- Eita, eu tenho que dar tudo né, Débora Cristina? Não sou sua mãe não, menina! Aff! Vai lá pegar logo!
- Tiaaa...
- O que que é dessa vez?
- Eu também não tenho cola...
- Ah, meninaaaaaa! Eu não sou papelaria não!

No outro dia...

- Tiaaaa ...
- Hum?
- Eu não tenho lápis de cor...
- O que é que você tem, né, Rayssa? Todo dia! Se não é você, é outro. Ah, quem tem que dar material não sou eu não, menina... Eu não sou papelaria não!

Meia-hora depois...

- Tiaaaaa...
- O que foi? O que vocês querem agora? Borracha, apontador? Ahhhh...
- Me dá um abraaaaaço?
- ...

E assim recomeça a história profissional desta educadora...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A MENINA MÁGICA

   Vitória chegou em casa com o rosto vermelho, correndo como se estivesse em uma competição. Escancarou a porta do quarto de sua mãe, fazendo com que ela desse um pulo:


- Manhêêêê Preciso ir ao médico. Corre! Vamos!!!!

   E saiu voando pelo corredor.

- Calma Vitória! Filha, filha, espera!

   Não adiantou. A menina já estava no carro, buzinando e gritando.

- Filha, o que está acontecendo? Você quer me matar? Como chega assim, sem mais nem menos falando de médico. Você está bem?

   Vitória responde aos prantos:

- Mãe!!! Vamos para o hospital! Corre, antes que seja tarde! Não dá para falar agora, a professora falou que minha barriga está cheia delas. Se eu falar muito, elas me explodem!

- Elas? Quem são elas, menina?

- Anda manhêêê!!!!!!

   A mãe toca o carro, ainda sem entender. Chegam na emergência e logo são encaminhadas ao Doutor Sempralegre, o qual as leva à sala de  Raio X.

   Após receber o resultado, ele olha, olha, e solta um suspiro.

- Doutor, é grave? O que a Vitória tem?

- É, é grave.

   Olha para a menina e solta sua gostosa gargalhada.

- Hahahahahahaha Sua filha é mágica!

   As duas se olham e falam:

- Mágica? Como assim?

- Hahahahahaha Vejam bem: sua barriguinha, Vitória, está cheia de letras! Sua filha é uma legítima comedora de letras! E, fazendo isso, ela transforma as coisas, como uma mágica. Veja bem, aqui por exemplo, ela conseguiu fazer com que uma PONTE enorme virasse um POTE pequenininho. E tudo isso engolindo a letra N! Fantástico!

Olha esse outro exemplo aqui: ela transformou um BOMBOM delicioso em um BOBO que só faz travessura. Tudo isso apenas engolindo dois M. Incrível!!!

Agora o meu preferido é este: apenas comendo o S, ela fez com que uma PASTA de papel virasse uma PATA, com filhote e tudo! Hahahahahaha

- Mas Doutor Sempralegre, eu vou me curar disso? Se eu continuar fazendo essas mágicas quando eu como letra, um dia eu vou explodir!

- Hahahahahaha Vai se curar sim, minha querida! Isso é passageiro!

- E qual é o remédio? Xarope azedo de repetição-de-palavras ou 5 doses diárias de ditado?

- Hmmm O remédio é doce e você, mesmo depois de se curar, não irá querer largar. E é simplesmente ler. Lendo, você irá perceber melhor como as palavras são escritas, ao mesmo tempo em que se divirte e viaja pela imaginação! Com o tempo, verá que mesmo uma letrinha faz toda a diferença nas palavras.

   Vitória estendeu sua mão e apertou a do médico:

- Doutor, obrigada! Irei começar hoje mesmo. Minha professora está me ensinando a ler e escrever. Ela também era mágica quando tinha minha idade. Hoje eu acho que ela ainda é, mas faz outros tipos de mágica. Outro dia eu te conto!

- Hahahahaha Adeus, menina mágica!

    Vitória, agora menos vermelha e esbaforida, saiu do hospital de mãos dadas com sua mãe. Mal chegou em casa e já começou a “se curar” com seus livros. Se sua barriga estava cheia, pense como estava sua imaginação...