terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Se você tivesse 5 reais... O que escolheria?

 



Eu acho um barato essas brincadeiras! Mas o fato é que se eu tivesse 1 milhão de reais... Acho que eu teria um pedido só: mais leveza na maternidade.


Sei que não é o caso de várias mães, e graças a Deus por isso. Mas parece que quando nos tornamos mães, ganhamos correntes pesadas que nos amarram a um piano mais pesado ainda... E a gente o arrasta em tudo.


Tudo nos preocupa. Tudo nos aterroriza. Tudo tem que ser ao pé da letra. Tudo tem que ser perfeito e conforme a cartilha. Tudo tira nossa paz. Tudo nos culpa. E o resultado: deixamos de curtir nossos filhos, os momentos que passam tão rápido.


Dia desses, levamos a pequena para vacinar contra a gripe. Demorou um pouco mais do que esperávamos e eu comecei a fazer o almoço dela após o horário em que eu julgo correto.


E tudo enrolou demais. E eu comecei a ficar preocupada, comentando com meu esposo que o arroz ia demorar muito, que ela não ia almoçar direito, e que... E que... E que...


Ele parou, me olhou e disse: Meu bem. Relaxa. Calma. Você tem que curtir mais as coisas.


Ele já me falou isso algumas vezes. E tem razão. Nessa preocupação com as coisas da vida, me esqueço de que "basta ao dia seu próprio mal", e carrego um fardo que não deveria, fazendo com que a maternidade seja um peso e não uma bênção.


Então, esse sim seria meu pedido. Mas não tenho 1 milhão de reais... Porém,  a boa notícia é que não preciso. Tenho um Deus que me escuta e me fortalece. 


Não é fácil... Mas tenho orado por isso. :-) Deus nos dê a graça de levarmos a maternidade com a leveza de que ela precisa!

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Para a Manu ler (6)



 Manu, como assim? Como assim você está fazendo 1 ano? Não foi ontem, que você nasceu às 17h55, com 2,870kg e 48 cm, vindo pra mim num abraço bem quentinho? 

Não, foi ontem sim. Porque eu me lembro dos mínimos detalhes... De estar sentindo contração na casa dos seus avós, pois seu papai estava de serviço e não queria que eu ficasse sozinha... Passei umas 6h morrendo de dor, mas achando que não estava em trabalho de parto. Quando não aguentei mais, liguei pro seu pai e fui acordar seus avós. Fui pra casa bem cedinho e comecei a sentir menos dor... Mandei mensagem pra Dra Tatiana, que eu não conhecia... Meu obstetra estava viajando, mas eu tinha tanta certeza que você ia esperar, filha, que nem fui conhecer a doutora antes... Mas, há 1 ano fui... Ela pediu pra me ver quando comentei das dores e não deu outra: 5 cm de dilatação. 

Passamos em casa, pegamos as coisas e fomos à maternidade. A doutora quis induzir o parto, já que as contrações tinham parado. Quando começou, Senhor! Muita, muita dor, mais do que de madrugada! Uma atrás da outra, sem intervalo nem de 2 min. Pedi a cesárea, a médica disse pra eu tentar anestesia (coisa linda de Deus). Nossa, voltei a ser um ser humano após isso. Novo toque: 8 cm! Graças a Deus, menos de 3 h de indução. Mais um pouco, e você estava nos meus braços, seu pai te vendo a primeira vez e dizendo: “ela é branca”... E, assim, começávamos nossa jornada a 3...

Um filme se passa em minha cabeça: a alegria de ver que você nasceu magrinha, mas mais gordinha do que esperávamos, já que pelo ultrassom você não estava querendo engordar muito na barriga; a segunda noite na maternidade (que desespero, a pior noite de todas até hoje); nossa luta pro seu ganho de peso (que até hoje é um fantasma para mim), mas a alegria em saber que, mesmo não estando na curva, você se desenvolve e sua pediatra e seu pai não se preocupam com isso (uai, qual o problema se você quer ser modelo, né?).

O ensaio newborn que não deu certo porque você não dormiu hehehe; as noites te acordando para mamar; as muitas saídas de casa e seus choros porque não gostava do bebê conforto; a candidíase mamária quando você fez 1 mês; as vacinas e suas febres, que cortavam meu coração; a confirmação da APLV (alergia à proteína do leite de vaca) e minha dieta de restrição de leite e derivados que já se estende por mais de 10 meses; a primeira mastite, minha internação com você, a segunda mastite, os muitos ductos entupidos; o tratamento no Hmib e nossas muitas idas lá; nossa viagem à Fortaleza. 

A pandemia, que mexeu com meus muitos planos durante a licença maternidade, mas que em compensação me deixa trabalhando  pertinho de você; sua introdução alimentar, as muitas marmitas, as muitas idas de seu pai ao mercado após 24h de serviço pra comprar o máximo que podia de orgânicos; a alegria de ver você comer de tudo (mesmo coisas que eu não como de jeito nenhum); o segundo almoço, que tivemos de introduzir para ter mais aporte calórico e que quase nos enlouqueceu hehehe; a suspensação dele 3 meses depois e a volta à vida normal (como é bom te dar só café da manhã, 1 almoço, 1 lanche e 1 janta); ver você abrindo todas as gavetas e bolsas e tirando tudo (a parte de aprender a arrumar tem que ser trabalhada hehe), muito mamázinho (graças a Deus) e você me dando a mãozinha enquanto isso. 

Maneca Pipoca, Manusguela, Manuscleida, Pituca, Pitucats, Pituquinha, Linduca, Lindeca, Lindeza, Malavilosa, Jacarezinha, Branca de Neve, Munita, Manu, Ma-nu-e-ela (quando você apronta)... Mamãe te chama de tantas coisas... Você ama fios, sapatos, não pode ouvir uma música que já começa a dançar; é muito sorridente, não estranha as pessoas e vai com todos; ama cachorro (pro meu desespero hehe); come de tudo, mas ama banana, mamão e açaí; quando chora, chora com gosto, alto e com muitas lágrimas (desde que nasceu); já sabe dar birra e aprendeu a cuspir comida, me deixando sem saber se rio ou morro de raiva; gosta de ficar na cozinha observando a mamãe arrumar tudo, pegando o paninho e limpando a cadeira. Você fala alto, põe tudo que vê na boca, vira nosso rosto para pegar o brinco, tem muita força e tem 8 dentes. Tem horas que é impossível trocar sua fralda.

Quem me nota, vê a mesma Lívia. Mas eu me sinto outra pessoa. Você me transformou e eu me transformei por você. Você me fez mais forte, mais dura pra dor, mais madura, me ajudou a fazer as coisas mesmo com pouco tempo e com muito cansaço, me fez começar a matar pecados de estimação que estavam aqui há anos. Por você, eu estudo mais, aprendo sobre coisas de que não gosto, tipo sobre alimentos e seus benefícios. Por você eu cozinho, lavo louça e varro a casa todo dia, faço cultinho pulando nas músicas, mesmo cansada... 

Nenhum trabalho é maior que a alegria de ver você se desenvolvendo: rolando, sentando, se arrastando, engatinhando, dando os primeiros passos, aprendendo a cair e levantar, a falar, dar tchau, bater palmas, chamar seu “dadai” o dia todo... É lindo ver a alegria que você leva aos seus avós, foi lindo ver seu pai se tornar um grande pai, e ver você virar sua maior puxa-saco; você batendo palma toda vez que cantamos parabéns... E, a minha parte preferida: ver seu sorriso aberto pra gente desde de manhã até a hora de dormir.

Eu te amo! Feliz aniversário! O aniversário é seu, mas o agradecimento sempre será a Deus: por sua vida, pelas dificuldades, pela força durante este ano... um ano difícil, sim, mas de muito crescimento. Glória a Ele que nos permitiu chegar até aqui, dando nossa família e amigos como rede de apoio. 

Foi muita oração de madrugada, de dia, de tarde, de noite... Muito choro, muito desespero... Tiveram dias em que tinha muito medo de ficar sozinha com você, mas Deus fortaleceu... Tiveram dias em que ia sair sozinha com você de carro e ficava tão tensa... Mas passou. Tiveram dias em que estava tudo bem e parecia que eu queria arrumar problema. Tiveram dias em que você não queria comer, enrolava muito, e eu me desesperava e tinha muita raiva. Mas preciso me controlar e te dar o exemplo.

Aprendi a comemorar cada pequena vitória e ser mais grata por cada detalhe. Aprendi a julgar menos, ser mais compreensiva com as mães, tentar não entrar na guerra das mães, ora me sentindo super mãe, ora me sentindo um lixo de mãe... Tento ser apenas mãe, sua mãe, e fazer o melhor que eu posso. Fácil, nunca é. Ser mãe, esposa, dona de casa, amiga, filha, profissional... São muitos pratos a equilibrar... E tem dias que todos caem e eu me desespero... 

Mas sei que tenho seu pai, você, e, acima de tudo, Deus pra me dar suporte. Tiveram dias em que acordava e pensava: nossa, há tanto para fazer... que sono. E Deus vinha, dava ânimo, mesmo naquele domingo à tarde em que costumava tirar aquela soneca compriiiiida... Mas que agora há tanto para se fazer e dormir não está na lista. E que bom por isso. 

Sim, você fez 1 ano... Passou tão rápido, passou tão devagar... Tanto desespero, tanto amor, tanto paradoxo. Obrigada, Deus, pelo meu presente chamado Manuela. Meu 24 de outubro nunca mais será o mesmo... Acordei nesse dia pensando em como será daqui uns anos, você esperando a surpresa que faremos, seu sorriso ao abrirmos seu quarto, você correndo nas festinhas... 

Mas “bora” viver o agora... Que, se Deus quiser, sua vida está só começando... E quero escrever muito sobre isso, de mãos dadas com você! 




sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Para a Manu ler (5)/ O fim/ O início

 


Filha, desde que fiquei grávida de você, parece que meu mundo ficou mais lento. Parei de correr na academia (não que isso fosse algo frequente hehehe). Não conseguia andar rápido para chegar nos lugares. Tudo parecia tão ligeiro. E eu devagar, nos primeiros meses sem barriga, mas muito cansada. E depois a barrigona me deixando mais lenta ainda. E mais cansada também hehehe. Mas o mundo seguia acelerado. E eu como espectadora vendo tudo tão agitado. Uma espectadora cansada e devagar.

Eu me lembro de ir em uma loja e pedir algo à moça. Ela saiu na frente para me mostrar em uma prateleira, que parecia estar na China. Ela chegou lá em segundos, e eu, quase em câmera lenta, falando atrás: Moooçaaaaa, espeeeraaaaaaa, cheguei após 2 anos. 

Tive você e pude voltar a correr (não que isso seja frequente hehehe), e andar rápido, e alcançar as pessoas e chegar onde quero em segundos. Mas a vida... a vida... continuou devagar. Definitivamente...  devagar... 

Porque é preciso parar e amamentar... E o feijão fica pra depois. Nossos sonhos serão deixados na prateleira... Ou serão construídos aos poucos porque agora é hora de parar. De brincar. Passar sua roupa. Ou lavar suas roupas. Hora de pausar o filme mil vezes e só rodar de novo quando você não estiver olhando.

Mas algo que não passou devagar foi minha licença maternidade. Tive o privilégio de ficar quase 10 meses com você, pituca. Mas mesmo assim passou tão rápido! Parecia tão longe. Eu dizia: É só em agosto.

Mas agosto começou a chegar perto.

Virou "mês que vem". Que virou "em 3 semanas". Que virou " semana que vem". Que virou "segunda agora". Por conta da pandemia, não saímos como eu gostaria. Mas fiz tantas coisas que eu nunca fiz ou fazia pouco...

Li, vi filme repetido no Tele Cine, estudei música enquanto você mamava. 

Passeamos juntas nos dias de trabalho do papai pelo calçadão, vendo o pôr do sol, e pensando na vida.

Fomos pra casa dos vovôs e conversamos na sala ou na garagem no final da tarde, comendo bolinho frito, enquanto eu fazia meu exercício de teoria e você brincava no tapetinho.

Dormimos juntas na caminha da mamãe de tarde, debaixo da coberta.

Um filme fica passando na minha cabeça. As primeiras vezes em que fiquei sozinha com você em casa (que medo!). Nossas primeiras saídas. Seus choros de recém-nascida quando saíamos de carro. Suas vacinas e o medo da febre que sempre aparecia algumas horas depois. As madrugadas nesses dias da vacina, medindo sua temperatura pra ver se tinha passado e se precisava tomar mais remedinho. A dificuldade na amamentação até tudo ficar bem. As idas à mastologista e Hmib, sempre calculando a hora do mamá. Nossas madrugadas juntas. Só eu, você e o silêncio. Nossas noites com a vovó quando o papai estava de serviço. 

A pandemia me fará trabalhar em casa por hora. Logo, ficaremos juntinhas ainda. Não como antes, pois mamãe vai precisar tirar um tempo pro trabalho também. Mas amei passar esses 10 meses me dedicando a você, meu amor. 10 meses em que eu praticamente parei minha vida por você: trocando fraldas, dando banho, fazendo sua comida todo dia, fazendo uma lista mental das horas de beber água e de você comer.

Foi lindo te ver se desenvolvendo. Rolando. Sentando. Se arrastando. Se pondo sentada. Ficando em pé nas coisas. Engatinhando. Começando a comer e fazendo a maior bagunça.

Fiz pouco por mim. Não malhei muito. Saí pouco sozinha. Foram raros meus momentos de solitude. Mas valeu a pena. E foi intenso. Rápido. E lento. Vá entender...

Um ciclo se fecha. Como o sol se põe em nossas tardes de passeio. Mas como ele também amanhece... algo novo está por vir. E enfrentaremos. Como sempre: juntas. 

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Para a Manu ler (4)/ O dia em que eu me apaixonei por outro homem


Filha, desculpe começar assim, mas essa é a verdade. Eu estou apaixonada por um homem. E ele não é o homem com quem eu me casei.

Sim, eu amo o Anderson. Tem suas falhas, mas é um bom marido.

Mas não sei, filha... Tudo aconteceu meio de repente. Quando você nasceu, para ser mais exata...

Bem nessa época, no meio da loucura do puerpério, eu conheci uma pessoa nova. Engraçado, né? Como assim? Que horas eu tive tempo, você pode pensar...

Eu não sei... eu não planejei. Simplesmente aconteceu. Estava bem na minha frente. E eu não pude resistir...

Sim... eu me apaixonei por outro homem.

E esse homem é o seu pai.

Ele surgiu ali, de mansinho. Não se mostrou muito durante a gravidez. Mas foi você dar seu primeiro berro, e eu vi, ali, na minha frente, um homem diferente. Que ficou quase mudo quando você nasceu. Desnorteado. Olhando de um lado pro outro enquanto pegavam você pra pesar e medir. Ele me olhava, e voltava a olhar pra você, e me olhava de novo. Em êxtase.

Sim, ali eu me apaixonei de novo. Por esse papai seu que não mede esforços por você e por mim...


Que te pega de madrugada e dorme na cadeira de amamentação com você nos braços (que, aliás, são sua canção de ninar. Acho que só perdem pro mamázinho).


Que me acalma, briga e exorta nas minhas neuras maternas.


Que acorda cedo pra cuidar de você, só pra eu ter mais algumas horinhas de sono, mesmo estando cansado também.


Que te leva pra passear para eu fazer algo por mim.


Que vai em 3, 4 mercados só para achar suas verduras e frutas conforme eu pedi.


Que acorda de madrugada, te troca, prepara sua fórmula e te deixa prontinha, só esperando eu ir amamentar...


Que não se cansa de ficar com você, pensar na sua segurança, fazer você rir (preferia não comentar que seus maiores sorrisos são com ele, mas é a verdade).


Que tem o brilho mais lindo que eu já vi toda vez que te olha.


Que vai para o trabalho e fica o dia todo vendo seus vídeos e fotos (e ai de mim se não mando, ele cobra na hora).


Que cuida de você como se fosse uma boneca de porcelana.


Dá comida. Troca fralda. Dá banho. Dá carinho. Brinca. Rola. Compra brinquedo. Beija até te deixar vermelhinha. Dorme do seu lado no tapetinho enquanto você faz carinho nele (por carinho leia-se tapas bem carinhosos hehehe).


Faz o que estiver ao alcance (e até além) para te ver bem.


Que sai do trabalho e passa na padaria cansado só pra comprar meu pão de sal, umas das coisas que ele sabe que eu amo e estou podendo comer nessa dieta de restrição.


Que faz palhaçada para você comer mais. Aliás... às vezes nem precisa, né? Só de ele sentar na sua frente você já vai e abre a boquinha...


Que lava suas roupinhas delicadas à mão...


Ora por você todos os dias (e às vezes até enquanto te nina pela casa para você dormir ).


Então... como não me apaixonar por esse novo homem que descobri naquele homem com quem eu me casei?

Feliz dia dos pais, "aiai". Te amamos e você é bênção em nossas vidas! 

Manu é minha cara, mas puxou seu sorriso fácil e largo e eu amo isso! Obrigada pela família que você me deu! Deus é bom!



segunda-feira, 6 de julho de 2020

Para a Manu ler (3)/ A história por trás das fotos





Filha, essas fotos estão carregadas de história.

Nessa primeira, estávamos saindo da maternidade. 2 dias depois que você nasceu. Meus seios estavam machucados. Por causa disso, não dá pra ver, mas coloquei por cima deles umas "rosquinhas de pano" para a blusa não escostar (pensa que "lindeza" estava, já que a blusa não era soltinha e marcava tudo).

Tínhamos acabado de ter a pior noite da vida, pois você chorou muito, muito, muito, e eu não sabia o que fazer (só para ter uma idéia: você tem mais de 8 meses e até hoje aquela noite continua sendo a pior hehehe). Não dormimos praticamente nada... Aliás, eu dormi por 1 hora porque uma santa de uma enfermeira foi lá e fez um "charutinho" em você. Com isso, você dormiu e eu apaguei. Acordei assustada achando que você tinha morrido porque não escutei nenhum choro durante meu sono hahaha.

Meu cabelo estava desarrumado, apesar de eu ter lavado. Eu recebi alta de manhã cedo e você no final da manhã. Estávamos nos preparando para sair, arrumando o quarto. Seu pai desceu, e começou a saga bebê conforto (demoramos alguns dias para não "apanhar" dele e do carrinho - a luta era feia, 7x1 pra eles).

Eu fui te trocar e colocar a roupa de saída da maternidade. Como você era pequenininha, cabiam 3 de você lá. Nesse meio tempo, você fez um cocô digno de Oscar. Acho que nunca fez tanto! E como te trocar se estava tudo dentro da mala no carro?

Chamei a enfermeira, que me socorreu com algodão e me ajudou a limpar. Eu perdidinha, fui procurar outra roupa. Peguei a primeira que achei e coube. Glamour? Não temos.

No meio daquele auê, seu pai chega esbaforido pelo bebê conforto, eu esbaforida por causa da bebê, ele pega as bolsas e pendura nele pra descermos. E eu lembro: Meu bem, não tiramos foto na maternidade. Ele solta um afff, pega o celular e tiramos essa foto "na tora". Glamour? Não temos. Nossa primeira foto juntos, a única na maternidade.

Eu acho é graça quando vejo as fotos das minhas amigas todas plenas, cabelo arrrumado, roupa bonita, segurando o bebê no colo em frente à maternidade e me lembro de como tiramos essa foto. Hahahaha

Descemos, queria tirar em frente à maternidade. Mas seu pai já tinha vindo com o carro e ficou com medo de atrapalhar o fluxo. Não deu. Te coloquei no bebê conforto. Cabiam 4 de você lá e eu não tinha o redutor. Não sabia encaixar o cinto direito. Tivemos que ir pro estacionamento pra eu te arrumar. Acho que perdi mais calorias do que no parto de tanto nervoso hehehe. Glamour? Não temos mesmo.

Enfim arrumada, fui segurando você pra ficar mais firme no bebê conforto até nossa casa.

E assim começamos nossa vida a 3...

Entre mamadas, dores, muitas madrugadas, choros sem tamanho no carro quando tínhamos que sair para inúmeras consultas (você odiava o bebê conforto), choro pra banhar (você odiava banhar), choro pra banho de sol (é, esse você não gostava também hehehe), choros por outros motivos (filha, mamãe te ama, mas você era bem chorona. A vovó e o papai tinham que ficar andando com você pra te distrair, mostrando os vestidinhos no seu guarda-roupa, indo pro violão bater nas cordas, na cozinha pra ver os quadradinhos coloridos... Era engraçado)... Enfim... Pulamos pra segunda foto, no ensaio de 4 meses.

Ali, cabelos arrumados. Sem mais dores na amamentação porque Deus é bom. Unha feita. Foto em estúdio pela fotógrafa. Qualidade maior. Carinha de quem estava dormindo mais e melhor.

Eu brinco que "viramos gente" quando você fez 4 meses. Os problemas na amamentaçao acabaram. Você chorando bem menos, quase nada. Amando banhar e brincar enquanto toma sol. Nós mais maduros, lidando com a montagem do carrinho e do cinto do bebê conforto igual gente grande, de olhos fechados. Adaptados à nova rotina... Cuidando de você, mas conseguindo fazer outras coisas também. Íamos viajar na semana seguinte...

A pandemia acabou atrasando a edição, então recebi as fotos depois de um tempo e fui ajeitar os porta-retratos... Quando peguei a foto antiga, um filme passou pela minha cabeça, meditando em quanta mudança cabia em 4 meses!

Mas mais do que as diferenças... Saltou-me aos olhos as semelhanças também:

Até hoje você ama um colo...

Já nasceu com esses olhões de jabuticaba olhando tudo, sempre curiosa.

E...

Esse sorrisão meu e do seu pai nas 2 fotos, não importando o cansaço ou as dificuldades que vieram e que sabíamos que viriam...

Esse sorrisão nas 2 fotos é por causa de você, filha... Nossa herança e presente de Deus! Esse sorriso é gratidão por te ter em nosso colo e por Deus nos ter dado você!

Nós te amamos! Você é a melhor parte da nossa história!

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Tem dias e dias...



Tem dia em que eu faxino por cima a casa, faço minha devocional, escrevo, cuido da baby sozinha porque o marido está de serviço...

Tem dia em que eu acordo. Escovo dente. Vou ao banheiro. Tomo 1 banho. E o resto é só Manu.

Tem dia em que eu treino mais de 1 hora no piano... Tem dia em que eu só quero 2 notas: mi-mi (de preferência no sol-fá. Eu sei. Que trocadilho horrível).

Tem dia em que eu guardo louça, lavo louça, recolho roupa, lavo mais roupa (na máquina e na mão), testo receita nova, faço um pequeno treino pra malhar em casa...

Tem dia em que eu sou só sono e moage, me arrastando pelos cantos...

Tem dia em que a Manu coopera...

Tem dia em que eu me irrito com seu choro, perco a paciência e ela chora mais ainda...

Tem dia em que eu a olho sorrir e penso que eu ganhei na loteria...

Tem dia em que meus olhos se enchem de lágrima e o coração de culpa quando tenho flashes da minha vida de antes, que parecem tão distantes, apesar do pouco tempo, com a liberdade que eu tinha pra fazer o que eu queria e dormir até acordar...

Tem dia em que o dia rende...

Tem dia em que eu vou dormir e penso: o que eu fiz? Quase nada... Nesses dias, percebo que me frustro porque coloquei atividade demais... Sendo que só uma é prioridade: ser mãe. O que vier a mais é lucro.

Tem dia em que eu leio páginas e páginas do meu livro de cabeceira (vulgo, baixado no kindle e lido no celular)...

Tem dia em que eu mal consigo ler 1 capítulo de provérbios na Bíblia...

Tem dia em que eu tenho tanta energia, mesmo tendo dormido pouco...

Tem dia em que eu não tenho energia nenhuma, mesmo que a noite tenha sido boa e eu dormido a mais (um luxo pra qualquer mãe).

Tem dia em que eu me sinto segura e "arrazani" como mãe...

Tem dia em que eu me sinto o cocô do cavalo do bandido, a pior das mães...

Tem dia em que eu mando e escuto áudio de minutos pras amigas e respondo todas as conversas de zap...

Tem dia em que eu mal consigo olhar as horas e, quando olho pela janela, o sol se foi...

Tem dia em que a casa está limpa, organizada, do jeito que eu gosto...

Tem dia em que olho e só tem cabelo meu espalhado por todo lugar, já é 2 da tarde e a cama ainda não está feita e em cada canto da casa tem um brinquedo da Manu...

Tem dia em que eu brinco no tapetinho com Manu, na cama, no berço, na cadeirinha, dou mamá, faço dormir, troco fralda...

Tem dia em que faço isso e mais um pouco...

Mas tem dia em que o pai está em casa (glória a Deus por esses dias, que são muitos) e ela fica só pendurada nele... E eu só dou mamá e faço minhas coisas...

Tem dia em que parece que é uma luta atrás da outra, sem folga... Vence uma e já vem outra...

Já em outros... Não, não... Tudo sem folga mesmo hehehe.

Tem dias em que eu acho o sorriso dela a coisa mais fascinante do mundo...

E em todos os outros dias também.

Tem 99,99% dos dias em que eu agradeço a Deus porque ela é meu melhor presente...

Nos outros 0,01% eu me pergunto: o que eu fui fazer da minha vida?

Tem dia em que às 9h eu já troquei de roupa, tomei café e comi fruta, escovei dente e já comecei a faxina...

Tem dia em que dá 1 da tarde e eu nem sei meu nome.

Tem dia em que eu tomo 2 banhos quentes e demorados, passo ácido e creme anti-rugas, creme nos pés antes de dormir...

Tem dia em que dá 11 da noite e peço forças a Deus pra conseguir chegar na cama pra deitar...

Tem dia em que eu penso em ter mais 2 filhos...

Tem dia em que eu penso: Senhor, não passo por isso de novo nemmmm. Onde eu fui amarrar meu burro?

Tem dia em que eu olho pra ela e penso: meu Deus! O tempo passou rápido demais! Ela está enorme...

Tem dia em que eu olho pra ela e penso: Senhor, será que essa fase vai demorar muito pra passar?

Tem dia em que eu sou mãe...

E no outro também. E Glória a Deus por isso.

E você... Como continuaria este texto com sua experiência?


Fotos by Cris Goulart.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Qual o maior desafio da maternidade para você?



Um dia, desci com minha pequena para passear "debaixo do prédio" (amo essa expressão brasiliense). Tem tempo, bem antes dessa pandemia. Fiquei olhando aquelas crianças brincando, correndo, e pensei na Manu fazendo o mesmo. E me deu uma vontade danada de que o tempo passasse rápido e ela chegasse nessa fase logo. Mas aí ouvi a frase top 2 da maternidade de um pai que estava lá.

A primeira no hanking é: Dorme tudo que tiver pra dormir agora, porque depois que nascer...

A frase 2 vem geralmente acompanhada de uma carinha de cachorro que caiu da mudança: Aproveita essa fase... Porque passa rápido.

E isso me levou a refletir sobre os muitos desafios da maternidade. Qual será o maior?

Para uns, o temido parto e sua recuperação, não importa se normal ou cesárea. E doi mesmo... E olha que o meu foi até rápido.

Para outros, o puerpério. Esse é louco. Você se recuperando, aprendendo a ser mãe e a cuidar de um bebê, nao entendendo seus sinais... Cheia de dores, hormônios mais loucos ainda, choros sem motivos, com motivo, nervos à flor da pele. É assustador e eu tive tudo que escrevi anteriormente, adicionado ao fato de que minha mãe (minha âncora nos primeiros dias, aquela que cuidava de mim enquanto eu cuidava da bebê) adoeceu quando minha filha tinha 2 semanas, ficou internada e não pôde me ajudar durante um certo tempo.

E as noites sem dormir? As mil acordadas durante a madrugada? Ou noites em claro? Privação de sono é terrível...

E os choros, que nos levam ao desespero porque não sabemos o que está acontecendo?

E a amamentação? Essa pra mim foi uma das piores. Tive fissura, 2 episódios de candidíase, ductos entupidos, 2 mastites e 1 internação. Tá bom, né?

Mas não. Nenhum desses eu considero o maior desafio.

O maior deles é, em meio a esse furacão de tudo que escrevi acima acontecendo ao mesmo tempo, a gente... Simplesmente... Curtir.  Aproveitar nosso neném sem reclamar. Sentir o cheirinho, olhar pra ele durante as mamadas, sorrir de volta, deixar ele segurar nosso dedinho bem forte, brincar, ver seu desenvolvimento dia a dia, comemorar cada vitória nos exames e cada grama ganhada...

Esse pra mim é o maior desafio. Deixar a tensão de lado e curtir cada fase com intensidade.

Porque, de fato, eu olho pra minha Manu com 6 meses e já dá uma vontade de colocar a cabeça de lado, fazer aquela carinha de cachorro que caiu da mudança e me juntar ao coro dizendo a frase do começo do texto.

E outra: será que eu curti? Ou só reclamei de tudo de ruim que aconteceu, sem gratidão pelas lições aprendidas?

Quando eu menos esperar, passou e uma menina estará correndo perto de mim debaixo do bloco... E será eu, olhando pra cada bebê perto de mim, com um balãozinho de fala em cima da cabeça: Aproveitem... Passa rápido. :-(

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Para a Manu ler (2)/ Minha história de amamentação



Filha, hoje você faz 6 meses. Um marco em sua história, pois até aqui você só tomou leitinho e logo, logo vai começar a comer. Mas, chegar até aqui não foi fácil... E quero compartilhar com você como foi...

Mamãe fez uma cirurgia bem antes de você nascer... E morria de medo de não conseguir te amamentar... Orava todos os dias para Deus me conceder essa graça...

Quando você nasceu, a enfermeira apertou o peitinho dela e saiu colostro. Você não sabe, mas eu enchi meus olhos de lágrimas! Deus ouviu minhas orações e disse sim!

Porém, mal sabia eu que o caminho seria bem tenso... Mesmo tendo ajuda das enfermeiras da maternidade em toda mamada, saí de lá com os 2 peitos fissurados. Doía muito quando você mamava. Mas a consultora, Alice, veio e fez laser, uma benção, pois logo sarou.

Então, tudo foi fluindo. Porém, com 2 semanas, sua vovó ficou bem mal... Pensei: meu leite vai secar. Mas Deus abençoou e deu tudo certo, com o leite e com a vovó.

Então, quando você fez 1 mês, papai ia voltar a trabalhar por uns dias antes das férias... Não sei se juntou isso, com a história toda da vovó... Mas a imunidade da mamãe caiu e ela teve candidíase mamária. Filha, como doía quando você vinha mamar. Parecia que eu estava levando agulhadas... Eu fechava os olhos e batia meu dedão do pé no chão de tanta dor... Como pode: 1 mês depois de ela nascer? Problema na amamentação não era só no começo?

Não, não era. Descobri isso em meio a muita dor. Tive que tomar remédio, você também, e mais sessões de laser. Ufa, passou.

Então, vimos que o peitinho da mamãe não estava suficiente. A cirurgia tinha afetado a produção e você não estava engordando muito. Ficamos 40 dias em AME (amamentação exclusiva), mas depois disso tivemos que recorrer à fórmula para complementar. Chorei de tristeza... mas agradeci também. Afinal, existiu a possibilidade de eu nem conseguir te amamentar... E Deus deu essa oportunidade! E ainda estava dando!

Iríamos continuar com meu “mamá”, e a fórmula seria introduzida por translactação, e não mamadeira, para você não correr o risco de largar o peito. Deu super certo e você logo se adaptou!

Porém, 2 semanas depois surgiu sangue em suas fezes... Suspeita de Aplv (Alergia à Proteína do Leite de Vaca). Tivemos de mudar a fórmula para uma mais cara e sem lactose e mamãe parou de comer coisas com leite e derivados. E você logo foi melhorando...

Então, você fez 2 meses. Papai voltou a trabalhar de vez e a vovó sempre ajudava a mamãe.

Mas, 2020 chegou chegando... As dores nos seios voltaram... Parecidas com as anteriores. Candidíase de novo? Eu chorei só de pensar...

A enfermeira veio 1 vez e fez laser. Não passou rápido como da outra vez. Ela veio 2 dias depois. Não passou de novo. Ela e a pediatra disseram: vá a uma mastologista.

No outro dia, consegui marcar. Mas antes, fomos à emergência e viram que um ducto estava entupido e o leite começando a empedrar. Mexeram, tentaram ajudar, você mamou e eu chorei de dor... Desconfiaram de abscesso, mas não me contaram e só pediram para ir fazer uma eco mamária.

Seu pai conseguiu marcar, como por um milagre, antes de irmos à masto. Resultado: negativo, mamas ok, graças a Deus.

Fomos à médica (mal sabia eu que seria a primeira de muitas visitas à Dra. Flávia) e ela deu várias sugestões para ajudar na amamentação. Disse que eu estava com mastite inflamatória... Que eu devia ordenhar e te dar de mamar para o leite desempedrar, senão ela podia evoluir para infecciosa.

Saímos de lá, com muita dor ainda. A enfermeira veio de novo, pela terceira vez em menos de 1 semana. Fez a massagem e tentou tirar o leite. Gritei de dor. Ela, então, disse pra mamãe: Lívia, ou eu ou a Manu tem que tirar esse leite. Você tem que ser forte.

Ela te pôs no meu peito, e as lágrimas escorreram de dor. Te coloquei em várias posições, até de 4 fiquei, pois a enfermeira disse que essa posição iria ajudar a desempedrar. O pior passou. Aquele dia tinha chegado ao fim.

No outro dia, fomos ao banco de leite do Hmib, hospital referência em amamentação, a primeira de muitas visitas também. Elas te pesaram, deram dicas, mas me liberaram, pois estava tudo ok, o peito bem menos empedrado.

Mas de madrugada eu acordei bem ruim... Calafrios, dor no corpo. Seu pai estava tranquilo, dizendo que estava frio, por isso eu estava assim. Ele foi trabalhar e eu só piorei. Tinha consulta com a mastologista ainda naquela manhã... Até sua vovó chegar parece que uma eternidade se passou. Pedi para ver se eu estava com febre... Ela pôs a mão na minha testa e disse que não, mas só para me tranquilizar, pois sabia que eu estava bem quente.

A médica tinha uma cirurgia e atrasou para a consulta. Quando eu entrei em seu consultório, estava me arrastando, queimando de febre... Ela mediu e disse: Lívia, a mastite evoluiu para infecciosa... Vou ter que te internar para você tomar antibiótico...

E eu: O que? Tá doida doutora? Como que eu vou ficar internada? E a bebê? Meu marido está no trabalho...

Lógico, mamãe teve que ir. Pro antibiótico pegar rápido, tinha que ser na veia. A doutora só me disse depois, mas estava certa de que evoluiria para abscesso.

Fui me arrastando para a maternidade do outro lado da rua, onde seria internada. Demorou anos para eu ir ao quarto, mais outros anos até a medicação chegar. Em meio às dores, ia preparando a fórmula para te dar, filha, te colocando no peito sem nem ver o que estava fazendo, me angustiando com medo você perder peso ou ter outra reação por causa dos antibióticos.

Quando o doutor veio conversar comigo, disse que eu teria que fazer massagem para ajudar o leite a desempedrar. E eu perguntei: a mesma coisa que fiz há 2 dias? Passar por aquela dor de novo? De jeito nenhum!

 Chorei, dizendo que queria parar de amamentar. Estava doendo muito!

Mas Deus sempre coloca anjos para nos ajudar em meio ao caos... A equipe de enfermeiras era ótima! Entre elas, Lays, que faria meu parto (acabou que você, filha, quis nascer no dia em que ela estava de plantão, então quem me acompanhou foi a tia Elisa). Ela veio me dar força, me ajudar a fazer a massagem e a me acalmar.

Os remédios foram fazendo efeito. Fiz outra eco mamária, sem abscesso, glória a Deus. Seu papai pegou atestado, trouxe praticamente nossa casa para o hospital e por lá ficamos por 2 dias. Noites complicadas, dor por causa do acesso, preocupação com você, pequena, tendo que ficar em um hospital. Pra honra e glória de Deus, não foi necessário interromper a amamentação e você não teve reação nenhuma!

Pensei: ufa, vencemos mais uma! Outra dessa, não devo mais ter, né?

Mas aquele era apenas o princípio das dores...

Continuei indo à mastologista toda semana para ela me acompanhar... Passei quase 3 semanas bem.

Mas então, um tempo depois, surge um ponto branco em meu peito. Um filme começa a passar em minha cabeça... Corremos pra emergência, você conosco, como sempre... Não era nada, mais um ducto entupido... Doía, mas suportável.

Mas 1 semana depois, durmo pela primeira vez com você sozinha (a vovó não pôde ficar com a gente nesse dia). Na primeira mamada da madrugada, acordo com o peito doendo e dor no corpo. Do nada. Simplesmente do nada.

Não consegui mais dormir direito depois disso... Peguei você às 6 da manhã e fui ver televisão, pra ver se conseguia ficar acordada, pois estava tremendo de frio, sem forças e com muita dor.

Parece que demorou uma vida até seu pai chegar... Assim que ele pisou em casa, eu te passei pros braços dele e corri pra debaixo da coberta, tremendo de frio. Só acordava pra amamentar... Você iria tomar a vacina do Rotavírus no meio da tarde, então tinha que esperar, pois não sabia se no hospital ia demorar. Não podíamos reagendar, você já estava tomando essa vacina no limite do limite (aos 3 meses e meio).

Assim que tomou, corremos para o hospital. E não deu outra: mastite de novo. Mas, pelo menos o tratamento seria em casa. Enquanto voltávamos, eu morrendo de frio, cansada, esgotada por estar tendo aquilo de novo (filha, mastite pode ser definida assim: você é atropelada de frente e ré por um caminhão), pensando que ainda tinha que te dar banho, te dar mamá pra você dormir, sendo que nem forças pra viver eu estava tendo (desculpa, mas era assim que eu me sentia), começo a desabafar com minhas amigas “do peito” (que têm filhos pequenos e também estão amamentando), dizendo que eu ia desistir. Pedi tanto a Deus, mas amamentar não era para mim...

Volto à mastologista, conto tudo, nós rimos e ela diz: eu ia te dar alta, já estávamos nos vendo de 15 em 15 dias, mas agora vou querer te ver toda semana de novo...

E eu pergunto: Doutora, quando isso vai acabar? Quando eu vou ter folga? E ela: Lívia, amamentar não é fácil, e sua mama não é mais a mesma depois da cirurgia... Pelo visto, vai acabar quando você parar de amamentar... Mas eu deixo essa escolha pra você...

Conversando com a vovó, ela me perguntou: Minha filha, você não quer desistir? E eu respondi: todo dia, mãe, não tem um só dia em que eu não queira desistir...

Seu pai, tadinho, na angústia ao me ver assim, sempre dizia: meu bem, pode desistir. Eu inclusive assumo as madrugadas para você descansar mais, porque aí não precisará acordar.

Mas Deus, de uma forma inexplicável, me fez ir vivendo um dia por vez. Não tive mais mastite, mas os ductos viviam entupindo... Não dava 1 semana de folga, tinha vezes... E doía quando você mamava... Pedia a Deus para renovar minhas forças, pois a vida não podia parar. Eu não podia parar. E decidi continuar vivendo, fazendo minhas coisas, com dor e tudo. Falava para mim mesma: Lívia, aguenta. Aguenta. Pelo menos até os 6 meses. Minhas amigas, irmã, mãe me ajudavam nesse mantra...

Nesse meio tempo, uma notícia boa, mas que logo se dissipou. Mudamos sua fórmula, reintroduzindo a lactose. Achávamos que você se adaptaria, pois os exames estavam bons, indicando que poderia não ser alergia. Mas 2 semanas depois, o sangue nas fezes voltou, confirmando o que antes era só suspeita. Chorei até secar... sabe aquele choro que você até soluça? Que você até se agacha de tanta vontade de sumir? Ainda bem que você não viu, pois estava dormindo, tão linda e tranquila! Voltamos pra fórmula cara, que agora duraria menos, pois você estava mamando mais ml em cada mamada.

Enfim, no meio desse furacão Aplv, problemas de amamentação que não acabavam... Num tiro de misericórdia, mando mensagem para Patrícia, enfermeira do Hmib, pedindo ajuda novamente e dizendo que eu ia desistir de amamentar. Ela, sempre solícita, me marca com outra enfermeira, Fabíola, 2 dias depois.

Fabíola tinha um aparelho de laser e queria testar um tratamento em mim, um tal de Ilib. Olho pro papai, que concorda que temos de tentar. Ela me abraça e eu choro agradecendo, e digo: Fabíola, eu só quero amamentar em paz. Curtir minha filha, coisa que parece que eu não consigo desde que ela nasceu, como diz minha irmã.

No mesmo dia, começamos o tratamento, com o laser em meu pulso por 15 minutos.

Filha, você não acredita! O milagre aconteceu: o machucado por causa do ducto entupido foi cicatrizando... Até que sumiu... As sessões passaram a ser de meia hora... E a paz chegou, a folga chegou... O tratamento, aliado ao fato de que você estava passando menos tempo no peito (antes, em cada mamada eu "parava" por quase 1 hora - li uns 5 livros por causa disso hehehe; hoje, você fica cerca de 20, 30 min), fizeram com que o peito melhorasse!

Já tem mais de 1 mês que te amamento sem dor, minha pequena. E quantas coisas passamos juntas nesses 6 meses, não é? Para uns, apenas um dia. Para nós, um marco. Uma corrida longa e dolorosa e que agora cruzamos a linha de chegada...Tiveram dias em que eu surtei... Pedi pra morrer... Pedi perdão por essas besteiras em que eu pensei... E no meio disso tudo, posso dizer que eu VENCI. Venci? Não, que egoísta... Vencemos... Eu e você vencemos. Eu, você e seu pai. Eu, você, seu pai, minha família, meus amigos, todos juntos... Vocês, que oraram por mim, seguraram minha mão, me ouviram desabafar, enxugaram, literalmente, minhas lágrimas. Sem rede de apoio, é impossível. Saímos, não ilesas, mas vitoriosas!  E com muitos aprendizados:

- Mesmo em meio ao caos, agradecer. Sempre! Pelas pequenas vitórias... Porque temos carro para nos deslocar em todas as consultas e tratamentos... Pelo plano de saúde... Por bons médicos...  Por poder pagar a consultora de amamentação... Pelo Hmib (e pensar em quanto preconceito tinha com coisas “públicas”, mesmo trabalhando em uma... Essas enfermeiras que salvaram minha amamentação, anjos de Deus)... Pelos dias bons... Gente, é tão bom estar bem... É tão bom estar com saúde e não sentir dor! É tão bom acordar de madrugada para amamentar sem ter aquele pensamento, enchendo o olho de lágrima: Meu Deus, vou ter que começar naquele seio dolorido. Deus, me ajuda, me socorre, em nome de Jesus!

- Não julgar. Cada um sabe da sua luta... E eu entendo bem quem desiste de amamentar.


- O que me dava forças? Deus. E saber que eu estava fazendo o melhor para você, minha filha, ainda que tendo que complementar com fórmula. Mas ver suas mãozinhas me fazendo carinho, seus olhões me vendo e sorrindo... Faziam tudo valer a pena... Conseguimos até fazer uma viagem! Você não vai se lembrar... Mas era engraçado te dar mamá na piscina ou na praia, fazendo fórmula com você no colo quando seu pai não estava perto, arrumando o biquíni, puxa aqui, puxa ali, que confusão! Só quem é mãe sabe hehehe.

Manu, amamentar não é fácil. Não é fácil acordar de madrugada cansada... Depois voltar a dormir pra acordar logo em seguida... Não ter sua liberdade nem pra ir à esquina porque tudo gira em torno de “que horas ela vai mamar?”. E ainda somam-se a isso as dores e problemas, como foi meu caso.

Mas são fases. E... valeu a pena. Vale a pena. Porque é o nosso momento, o momento em que estamos juntas, em sintonia...

Ele não vai acabar por agora, se Deus quiser. Ainda continuaremos, em nome de Jesus. Mas agora com comidinhas e, aos poucos, essa nossa ligação vai diminuir para que você seja cada vez mais independente e vá alçar seus voos... Mas eu estarei sempre aqui, com um colinho e um mamázinho para você. E disposta a dar minha vida também, se necessário for.

Que bom que Deus não me deixou desistir! Que bom que você, filha, não me deixou desistir!

6 meses... Parece que foi ontem que você veio para meus braços pela primeira vez... Mas parece que tem 10 anos...

Te amo, minha “blavezinha”! Feliz introdução alimentar! Em cada passo, estou aqui por você e para você!

PS: “Em meio à tribulação, invoquei o Senhor, e o Senhor me ouviu e me deu folga”. Salmo 118:5 Esse versículo foi enviado por minha amiga Libna, que tanto me ajudou nesses 6 meses e a quem eu serei eternamente grata. Ele resume bem tudo o que eu queria dizer com esse texto :-).

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Sobre Aplv, cookies e a quarentena



Quem me conhece, sabe que eu detesto cozinhar. Só faço por obrigação. Amo casa arrumada, organizada, faço faxina feliz, mas cozinha não é pra mim.

Mas, na vida de adulto, ou você faz, ou passa fome, ou pede ifood.

Porém, minha baby foi diagnosticada com Aplv (Alergia à Proteína do Leite de Vaca). Como eu amamento, tive de tirar leite e derivados de minha alimentação.

Por ela, faço com gosto. Tudo para ela ficar bem. Mas seria hipócrita se dissesse que, vez ou outra (ou muitas vezes), não bate aquela tristeza por não poder comer besteirinhas que eu e meu esposo gostamos.

E meus doces... Ah... essa sem dúvida foi a pior parte.

Como eu amo um chocolate!!! Então, tinha 2 opções: chorar e reclamar por minha filha ter isso e eu não poder comer o que quero (faço isso de vez em quando hehehe) ou me reinventar, pesquisar e aprender.

E a gente na crise acaba descobrindo tanta coisa, né? Lojinhas com coisas gostosinhas e sem leite de origem animal. Receitas de bolo e "besteirinhas" sem leite... Tô virando quase vegana hehehe.

Lívia, é a mesma coisa? Não, não é. :-(. Mas quebra o galho e mata a vontade? Sim pililim!

Mas, como não dá pra viver só de compras nessas lojas (os produtos são mais caros do que os normais), tive de encarar minha cruel inimiga: a cozinha. Mesmo porque não confio em pedir comida em restaurantes... Eles falam que não, mas sempre rola uma manteiga ou um pedacinho de queijo... Não dá pra arriscar.

Então, o jeito é cozinhar. E tem se tornado uma das muitas lições nessa quarentena.

Com ajuda de amigas que passaram por isso e me dão apoio e receitinhas, e do meu fiel escudeiro e marido, que se arrisca lá fazendo bolinhos e as compras do ingredientes para mim, estamos testando coisas bem gostosas.

Ontem foi dia de cookie... Gente, eu amo cookie! Que tristeza quando eu pensei que não poderia comer tão cedo...

Mas eis que recebo uma receita de cookie vegana. Fácil. E simplesmente deliciosa.

Na correria de ser mãe, dona de casa, louça brotando, roupa pra lavar, estender, recolher... Consegui terminar 10 da noite, mesmo a receita sendo super rápida.

E sabe quando você come algo tão gostoso, mas tão gostoso, que até fecha os olhinhos dizendo "Hmmmm"? Foi assim... Muita alegria, ainda mais sabendo que podia comer sem culpa, pois não faria mal à baby Manu.

Sabe, maternidade é sobre tanta coisa, né? Sacrifício, se doar, se esvaziar... Mas é também sobre ser feliz. Ela é prioridade, mas nós temos que estar bem para eles ficarem bem também.

Essa quarentena tem sido assim... Oportunidade de ouvir mais a Deus... Sempre que possível nos dedicar aos nossos hobbies... Tirar da gaveta projetos antigos e fazer um pouco por dia, nem que seja por 10 min... Passar mais tempo em família. Ver coisas novas e que você achava que não era para você... Cozinhar.

E por aí, a quarentena tem rendido frutos? Cookies?

Espero que sim! Deus nos ajude e que essa fase passe logo. Mas que os aprendizados fiquem em nossos corações (e barriga hehe).


Obs.: Receita do cookie: https://youtu.be/rZKi9dY0_0w.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Para a Manu ler (1)

Filha, vou confessar algo para você. Mamãe nunca sonhou em ser mamãe. É verdade. Sempre gostei de criança... Mas nunca achei que levava jeito pra ser mãe. Seu papai que me convenceu, pois esse sim sempre foi o sonho dele.

Aí eu pegava meu celular quando estava grávida e via meus amigos postando fotos com aqueles barrigões e colocando na legenda: #vemfulaninho #estamosprontos.

Estamos prontos. Eu lia aquela frase com um misto de inveja, desespero e dor. Porque eu pensava: meu Deus. Eu não tenho coragem de escrever isso. Eu não consigo. Eu não estou pronta para ser mãe. Será que estarei quando ela estiver perto de chegar?

Não. Não estava. Ainda não estou pronta pra nenhum dos desafios.

Mas estou aqui te olhando enquanto você dorme em meu braços após a segunda ou terceira mamada da noite (o cansaço me fez perder as contas). Olho pro seu rostinbo perfeito, com o sinal vermelho no cantinho do olho esquerdo, seu nariz que você puxou do papai, sua boquinha desenhada, suas bochechas fofas, suas sobrancelhas clarinhas, seus muitos cabelinhos e penso... Filha, quanta coisa já enfrentamos juntas, não é? E olha que só começou. Você tem só 3 meses.

E eu penso: ainda não estou #preparada, #pronta. Mas estou aqui pra você. E estarei sempre. E prometo enfrentar tudo com e por você, com uma condição:  que estejamos juntas. Igual quando você nasceu e veio direto pros meus braços e eu senti aquele seu abraço quentinho, o melhor do mundo. Igual quando você está mamando e pega meu dedo e não solta de jeito nenhum, ou fica me olhando com esses seus olhos lindos e enormes, sorrindo de alegria quando fico te olhando também. Igual quando você dorme em meus braços e acorda de repente, mas vê que estou lá pertinho e volta a dormir. Igual quando você acorda de madrugada chorando e eu te pego pra trocar, você me olha e abre um sorrisão.  E eu fico te mandando beijo e você tentando imitar. Ou quando você está mamando e fica esticando o bracinho pra pegar no meu rosto ou puxar a alça do sutiã. Ou quando eu brinco inventando músicas com seu nome, te chamando de linda e "malavilosa" e você dá sua risada banguela...

Fazendo tudo juntas... Aí sim me sinto #pronta. Nós duas. Juntas. Pra sempre. De vez em quando deixando o papai entrar na nossa festa hehe.

Te amo! E pra esse amor eu tenho certeza: nunca estarei #pronta para mensurar seu tamanho e intensidade.





quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

5 anos de casados, Manuela e o caos da internação

Ano passado, quando eu e meu esposo estávamos comemorando 4 anos de casados, eu disse a ele: ano que vem, a essa hora, pode ser que nossa comemoração seja bem diferente.

Já estávamos pensando em engravidar em 2019... Deus foi gracioso e menos de 1 mês depois nossa herança estava no forninho.

1 ano depois e quantas coisas aconteceram... Parece que 2019 teve 10 anos dentro dele... A emoção da descoberta da gestação, a alegria de contar aos parentes e amigos, os preparativos pro chá revelação, os medos e preocupações, a montagem do enxoval, do quarto que parecia nunca terminar, o preparo da casa, os sonhos...

E Manuela chegou... Trazendo com ela uma enxurrada de sentimentos, por hora até mesmo o desespero... Por medo de não dar conta, pelo cansaço, por não termos o controle de nada, pela mudança drástica de uma vida egoísta e centrada nos próprios interesses, mas que agora passa a girar em torno de outra vida que depende exclusivamente de você.



No meio de tanto caos, infinitas saídas de casa que eram um "Deus nos acuda", perdidos que só, a semana de nosso aniversário de casamento chega...

Parecendo cumprir minha profecia de 1 ano atrás, mas não da maneira que eu planejei, passo pela pior semana da minha vida.

Começa com nossa saga interminável entre emergência, exame, consulta, sessão de laser com tortura de ordenha. 2 dias depois, fico doente e sou internada junto com a bebê.

Sem entender nada no meio daquilo tudo, entre cuidar de nossa filha com um braço limitado devido aos acessos e me recuperando em meio a antibióticos e milhões de outros remédios, graças a Deus recebemos alta no dia em que fizemos 5 anos de casados...

Quando a poeira abaixa... E eu penso em tudo que passou desde o dia 24 de outubro (tão pouco tempo, mas ao mesmo tempo tantoooo tempo), quando Manu veio para nossos braços... Eu agradeci. Agradeci a Deus por ter colocado Anderson como meu marido...

Pois é ele quem ora por mim quando minhas lágrimas descem e eu nem sei o motivo. Ele, que me segurou firme para eu dar à luz. Ele, que fica com nossa filha, mesmo sem ter dormido quase nada, só para eu descansar mais um pouco. Ele, que a balança de um jeito engraçado para que pare de chorar e eu fique menos agoniada. Ele, o mais otimista de todos, vendo sempre o lado bom enquanto eu já estou desesperada achando que deu tudo errado. Ele, que dormiu no sofá do hospital e segurava minha mão para me acalmar ou me fazer rir em meio ao caos daquela internação. Ele, que fica fazendo tudo que peço enquanto estou dando mamar, sempre de cara boa. Ele, que está do meu lado nas minhas crises de puerpério de "O que eu fiz da minha vida" (a mãe que nunca teve isso atire a primeira pedra). Ele, que me pedia foco quando queria desistir em meio às dores da amamentação (muito piores do que as do parto, por sinal). Ele, amor da vida de nós duas, alvo de nossos olhares mais apaixonados.



Meu bem... Com perdão pelo atraso (com criança, o tempo nao é mais o mesmo), parabéns para nós 2! Pela filha linda que fizemos... Pelos 5 anos de tantas provações (em especial nesses últimos 3 meses), mas que demos conta porque Deus estava do nosso lado (ou nos carregando no colo).

Obrigada meu Deus pelas bênçãos até aqui! Sem o Senhor, nada faz sentido. Obrigada por nossa família e pelo meu marido imperfeito, esposo de alguém mais imperfeita ainda, mas que pela graça conseguem caminhar juntos! Agora, em 3...