sábado, 30 de janeiro de 2021

Minhas turmas de 2019 e 2020

 E... finalmente... férias! Nem acredito... Mas antes...


Nem fiz texto da minha turma de 2019, como sempre fiz com as outras... Não me dei conta disso agora... É porque faltou tempo mesmo (a gente ama dar essa desculpa, né?).


Quando entrei como professora na Secretaria de Educação, peguei uma turma no meio do ano. Desde então, sempre fiquei com a turma do começo ao fim. E amava isso.


Aí veio 2019... Ano em que fiquei grávida de minha princesa... Mesmo em meio à azia interminável, o cansaço extremo, a barriga que batia em tudo, os mil exames e consultas, fui até o fim, graças a Deus, com poucos atestados.


Minha turma de 2019 era enorme. Acho que nunca peguei uma turma tão grande. Dava quarta-feira, iam quase todos. Não sei o porquê, mas quarta-feira era o dia. Senhor! Eu quase entrava em desespero quando via aquela pilha de mil agendas caindo de cima de minha mesa, os meninos sentando e 3, 4 ficando em pé... Sinal de que iria ter que buscar cadeiras na sala vizinha e pendurar no teto, porque não tinha espaço. Não tinha nem como andar.


Era uma turma de Educação Infantil. Tinha pego uma em 2017... e que memórias doces eu tinha... 2018 peguei um primeiro ano e me apaixonei, virou minha série preferida!


Mas em 2019 não sobrou turma de alfabetização. Consegui ficar pela manhã, mas voltei pra Educação Infantil. E pensei: será bom, como foi em 2017.


Não sei explicar direito, mas não foi. Mas não foi de todo ruim, entende? Eu hein... Não sei se era a gravidez, hormônios, cansaço... Eu gostava deles... De verdade... Mas, sei lá... Faltou alguma coisa...


Eu acordava 6, 6 e meia. Não é do meu estilo acordar tão cedo... Mas foi de Deus pegar turma de manhã, porque depois do almoço... que azia. Haja limão. Haja água com gás. Socorro!


Chegava à escola e sempre cantávamos e dançávamos umas musiquinhas. Gente do céu, se eu as escuto hoje... juro que sinto o mesmo enjoo da época hahaha.


E assim seguimos... Em março, recebi mais 1 aluno. Especial. Tive tanta raiva! Por que para mim? Minha turma era a mais cheia! Todos sabiam que ele iria pra minha turma, menos eu, o que me deu mais raiva ainda.


Mas o tiro não saiu pela culatra. Deus, que escreve certo por linhas certas, me mandou um super bonzinho (diferente do que tinham pintado) e eu ganhei uma super monitora que foi um anjo, que depois saiu e foi substituída por outro anjo.


Nunca consegui tirar uma foto com a turma completa, para assim dar de lembrança e também colocar na minha geladeira, como nos outros anos... Acho que já era presságio do que a turma seria: sempre com essa sensação de que faltava algo...


Mas hoje entendo: eu estava incompleta. Eu estava morrendo... Para dar luz não só à Manuela... mas também a uma nova Lívia.


Porém, guardo com carinho em meu coração nossos momentos... Eles me viram sem filho, viram minha barriga crescer, viram a florzinha da maternidade desabrochando em mim. Eles me aguentaram nos dias difíceis, riam de mim ao sempre me ver, meio-dia em ponto, espremer o limão e tomar o ferro... Ou riam quando eu esquecia algo ou deixava algo cair  (acontecia toda hora), e também naquele dia em que fui de sapato trocado hehehe. Deram presentes lindos pra Manu, com todo o carinho... Ela usou todos e eu me lembrava do rostinho de cada um que deu... Seus pais eram simpáticos e entenderam minha situação. Daquele pais que todos querem na turma, sabe?


Saí em outubro... Antes do ano terminar...


E então, num piscar de olhos, minha licença acabou e veio minha turma de 2020, que peguei após o ano começar. Mais uma que seria assim... Incompleta...


Peguei a turma após a pandemia começar e, com ela, pude experimentar o doce e o amargo do "muié" office: a raiva da tecnologia que facilita, mas atrasa tudo quando não quer funcionar, já que hoje dependemos exclusivamente dela; as mensagens dos pais 7 dias por semana, 24h por dia; o desafio de dar aula e fazer teste da Psicogênese pelo Google Meet, com uma criança andante e falante batendo na porta gritando "mamãe"; fazer milagre pra alfabetizar; cobrar pais pra entregar as tarefas toda semana; reuniões de planejamento demoradas; gravar vídeos; aprender a editar vídeos; aprender a mexer nas ferramentas do Google (estou especialista em Google drive, formulários etc hehehe); abrir e editar o diário mil vezes, colocando presença aos que fizeram tudo atrasado (cada semana, a presença era de uma cor, para eu saber quem tinha feito e quando). Parecia que seria moleza no começo, né? Hahahaha... E tome relatório semanal, chip novo, WhatsApp business, lives e mais lives, demandas e mais demandas, encontros individuais no Meet com mais de 1 hora para cada um (e depois conferir, no mesmo dia, as tarefas, programar aula, responder dúvidas de pais). Ufa!



Eu nem conheci meus alunos ao vivo, gente. Vi alguns no drive-thru e só. Nada de abraço. Nada de desenho da professora. Nada de receber florzinhas.


Sem horário pra trabalhar, mas em casa, acompanhando minha família. Lado bom, lado ruim, como tudo.


Ufa! Ontem dormi 1 da manhã imprimindo e revisando relatórios, rasgando os que errei (bendito 2020 que atrapalhou até nisso, vários eu me esqueci de arrumar e assinei 29 de janeiro de 2020, fala sério). Antes disso, de tarde, dei reforço, fiz brincadeiras para despedir... Despedir daqueles que eu nem conheci direito.


Como assim? Eu nem sei sua cor preferida... Eu nem sei qual é seu cheiro. Eu nem vi seu corte de cabelo... Eu nem te levei na direção pra pegar gelo porque caiu no recreio... Eu nem briguei com você porque não estava prestando atenção. Eu nem te vi, uai. Eu nem... Nossa, teve tanta coisa que eu nem fiz com vocês. :-(


E assim encerro "2020": mais uma sensação de incompletude... Eu nem os conheço para poder fazer um texto legal... Ficou parecendo aqueles relatórios dos meninos faltosos: "Por falta de informação, não foi possível fazer um relatório mais acurado".


Eu só via suas atividades e seus rostinhos nas telas, às vezes... Mas foram eles que fizeram?


Eu e minhas colegas revezamos. Cada uma gravava um vídeo que ia para todas as turmas. Dei aula para todos... Mas parece que não tive nenhum estudante... Parece que meus alunos foram meu computador e meu celular e plataforma e WhatsApp. Gosto deles não. Prefiro gente. De carne e osso e cor.


Mais uma coisa que a pandemia tirou: aquele gostinho único de ver SEU aluno, crescendo dia após dia, e lendo ao final de tanto esforço. Corona, jamais irei te perdoar por ter me tirado isso.


Meu desejo é que 2021 seja completo. Se 2020 nos ensinou algo, é isso, pelo menos isso de bom: precisamos do incompleto para sermos mais gratos. Porque vou te contar... Que saudades dos gritos do recreio... Das coletivas intermináveis... Da sala de aula quente (ok, peguei pesado. Sem saudades disso hehehe). Enfim, que saudades de viver o "velho" normal.


Sim, a gente precisou de se sentir incompleto, pra sermos mais gratos e, assim, nos sentirmos, agora sim, mais completos.


#vemturminhade2021.


Nomes de meus estudantes de 2019, no body que ganhei de minha monitora.


Foto da plataforma... Minha sala de aula virtual... Meus "estudantes" de 2020.