sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Pai, mãe, eu preciso da Escola Dominical!

   Gente, sou muito fã de Escola Bíblica Dominical (EBD). Inclusive, dou aula nela. E percebo como os pais não a valorizam, apesar de sua grande importância para o crescimento espiritual das crianças. Baseado nisso, escrevi esse conto para alertar pais e mães que crianças precisam da Escola Dominical! Boa leitura!    
 
   Era uma vez a história de Paulo. É a história dele, mas bem podia ser a minha, a sua ou de seu filho ou filha. Ele tinha 6 anos e seus pais eram bem exigentes. Ele tinha de ser sempre o mais dedicado em tudo: na escola, no inglês, na natação... Eles só não exigiam essa dedicação toda na igreja. Afinal, pra quê?

Mãe do Paulo: O mundo está muito competitivo, meu filho. Você não pode perder tempo com bobagens.

    Sua mãe dizia isso a ele todos os dias.

   Um dia, Paulo chegou em casa após a Escola Dominical (nesse dia, por um milagre, eles foram à EBD) e correu para fazer a lição da revista que ganhou de sua professora. O tema era: “Os milagres de Jesus”. Estava empolgadíssimo para pintar e fazer as atividades e...

Mãe do Paulo: Pauloooooooooo Nada disso! O que você está fazendo? Larga essa revistinha e vai estudar para a prova de amanhã. Isso aí não é prioridade agora.

Paulo: Mas mãe... Eu já estudei. Fiz todos os exercícios. Deixa eu fazer o dever da igreja agora. A professora disse que nós devemos buscar a Deus em primeiro lugar! Ela falou que isso está na Bíblia lá em...

Pai do Paulo: Ah, menino! Faz o que sua mãe está falando! Por acaso isso aí vai fazer você passar em algum concurso? Vai fazer você entrar na faculdade? Hein? Vai lá estudar mais! Você não quer ser como nós, uma médica e um empresário? Acha que fazendo essa revistinha vai conseguir? Escuta a gente que você vai se dar bem. Siga o nosso exemplo.

    E no outro domingo eles não foram à EBD porque Paulo tinha um trabalho de Matemática para terminar. No outro, tinham ido a uma festa, chegado tarde e não conseguiram acordar. Depois, eles viajaram. E depois era uma lista enorme de exercícios de Paulo. E depois... Enfim, o que eu sei é que só voltaram lá perto do final do ano.

   Não pense que seus pais eram maus: eles o amavam muito. Mas queriam que ele tivesse um futuro brilhante: entrar em uma universidade federal, passar em um grande concurso, ser alguém na vida... E ficar na igreja, trabalhando, sendo líder de adolescentes, jovens, indo para Escola Dominical, ah, isso era perda de tempo na visão deles. Tiraria sua atenção do que era realmente importante.

   Alguns anos se passaram e Paulo já era um adolescente.

Paulo: Pai, hoje é domingo. O pessoal da igreja me chamou para a sala dos adolescentes na EBD e depois para jogar bola. Posso ir?

Pai do Paulo: Você está doido, Paulo. Você está em semana de prova, não vai pra igreja não, vai estudar. Na sexta você sai com o pessoal da escola e vai pra um show.

   E Paulo cresceu assim: só existindo, sem viver, pois faltava o principal em sua vida: Deus. Seus amigos eram todos da escola, passava seus domingos estudando, nunca participava de nenhuma atividade da igreja. Sabia tanto dos assuntos do vestibular, mas tão pouco da Palavra de Deus! Mas como aprender, se não tinha o hábito de ir à escola dominical, na qual vemos mais a fundo os diversos temas bíblicos?

   Ele cresceu vazio. Sim, ele entrou em uma boa universidade. Um dos primeiros colocados. Logo passou em um excelente concurso. Mas não se sentia feliz: faltava algo... Casou, mas faltava algo no casamento... Tinha dinheiro, mas faltava algo para aquilo fazer sentido... Teve filhos, mas... faltava algo...

   Argh, gostou do final? Eu também não! Que coisa mais triste, não é? Vamos fazer o seguinte, vamos começar de novo...

   Era uma vez um menino chamado Paulo. É a história dele, mas bem podia ser a sua, a minha, ou a de seu ou sua filha.

   Paulo era um menino muito dedicado à escola. Gostava de estudar e fazia tudo com capricho. Mas tinha algo que ele era realmente zeloso: com tudo que era de Deus. E seus pais sempre incentivavam isso.

Mãe do Paulo: Filho, é muito importante você estudar, ir bem nas provas e ser bom aluno. Mas nunca se esqueça: sua prioridade é Deus. Chegou da escola e tem dever para fazer? Ótimo, mas antes disso você tem de ler a Bíblia, orar e fazer o dever da revista da igreja.

Paulo: Mas, mãe, e se os deveres da escola forem muitos?

Mãe do Paulo: Ué, você faz assim: assim que chegar da EBD começa a fazer a revista. Durante a semana, faça cada dia um pouquinho, já que ela é normalmente para o próximo domingo. Mas nunca deixe o da EBD por último. Não quero ver você fazer fazendo sua revista no sábado à noite ou domingo pela manhã antes de irmos à EBD.

Pai do Paulo: Isso mesmo, filho. Deus é prioridade nas nossas vidas. Queremos sim que você estude, tenha um bom emprego, mas o que adianta ter tudo isso sem Deus? Primeiro, devemos buscá-lo e as outras coisas vão sendo acrescentadas. A Bíblia diz em Marcos 8:36: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”. Lembre-se sempre disso.

   E assim Paulo cresceu. Não deixava a escola de lado, mas Deus era o mais importante em sua vida. Seus pais sempre o incentivavam a participar das programações da igreja e, principalmente, da escola dominical. Achavam a participação na EBD fundamental para o crescimento espiritual, tanto deles como o de Paulo. Nada era desculpa para faltar.

Pai do Paulo: Paulo, já está pronto? Já está na hora da EBD.

Paulo: Ah, pai, eu estou enrolado. Tenho tanta coisa para estudar e ainda nem estou na metade. Não queria faltar, mas é só hoje.

Pai do Paulo: Filho, não. Assim que acabar a EBD a gente vem embora e você estuda a tarde toda. Não vai faltar por isso não. Vamos logo. Você vai ver como seu estudo vai render depois. Para Deus, não somos segundo plano. Ele deve ser sempre nossa prioridade.

   E olha que engraçado: foi exatamente nesse dia em que Paulo ouviu na classe de adolescentes da escola dominical algo que iria mudar sua vida!

Paulo: Mãe, mãe. Você não vai acreditar! Hoje eu ouvi uma história fantástica lá na EBD. Era a história de um homem que é advogado, mãe. Nossa, ele que deu a aula hoje. Ele é fera, um dos melhores da área. E sabe o que mais, mãe? Ele tem um escritório e uma vez por semana ele atende só pessoas que não têm dinheiro. Ele ajuda essas pessoas, resolve seus problemas e ainda fala da Palavra de Deus. Mãe, eu quero ser como ele!

Mãe do Paulo: Filho, que alegria! Meu sonho é ver você feliz em sua profissão e mais que isso: servindo a Deus como um excelente profissional! Que Deus te abençoe!

   E foi isso que aconteceu. Paulo era um servo de Deus dentro e fora da igreja. Sempre participou de tudo, nunca deixando a escola de lado, mas sempre colocando Deus na frente. Descobriu indo à igreja que queria ser advogado e ajudar pessoas e assim o fez.

   Paulo passou em uma boa faculdade e resolveu advogar. Como era seu sonho, seu escritório era aberto para ajudar pessoas carentes e fez diferença na vida de muitas pessoas, falando de Deus e servindo-O em primeiro lugar.

   Casou-se, teve filhos, mas, antes de tudo, era um homem temente a Deus e isso fez toda a diferença em sua vida. Não sentia que faltava algo, não por ter muito dinheiro, família... Era porque tinha realmente tudo: Deus. E isso bastava!


   E você? Qual dos finais quer para sua vida? Nunca é tarde demais para voltar atrás e colocar Deus em primeiro lugar. Pais, mães: incentivem sim seus filhos a estudar. Incentivem que tenham bons empregos. Mas não coloquem isso por cima de Deus. Não deixem de trazer seus filhos à EBD. Valorizem-na assim como valorizam a escola, ou até mais, porque é nela que aprendemos o melhor conteúdo: Deus. Nosso desejo é que seus filhos digam, assim como Obadias disse em 1 Reis 18: 12: “Eu, contudo, teu servo, temo ao Senhor desde a minha mocidade”. Feliz volta às aulas crianças! E feliz volta à Escola Bíblica Dominical! Que Deus abençoe nosso 2011!

 



sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

X-MEN: Que professor não quer ter poderes especiais?


    Um dos meus filmes favoritos é X-Men. Poxa, eu era uma menina quando saiu o primeiro e adorava o Wolverine. Sei lá, essa ideia de poderes especiais me fascina. O tempo foi passando e continuei a gostar, acompanhando notícias na internet, comprando ingressos para a pré-estreia e vendo entrevistas e reportagens na televisão (ô, falta do que fazer!).
    Em uma destas, vi uma repórter perguntando a famosos qual dos mutantes eles gostariam de ser. Nossa, eu pensei em tudo de bacana, todos os poderes feras que eles tinham: um, se transformava em qualquer pessoa que quisesse; outro, lia a mente; tinha um que atraía metal; e aquela que mexia o que quisesse apenas com a poder da mente? Sensacional... E eu fiquei imaginando: qual desses eu queria ser? Qualquer um seria fantástico, mas nunca consegui me decidir...
    Só que o nunca durou até 2009, quando saiu o filme do Wolverine. Ele tinha uma namorada chamada Kayla e eu quase pirei quando ela revelou o seu poder especial: ao tocar em alguém, Kayla fazia com que essa pessoa realizasse o que ela dizia. Eu disse no meio do cinema: "UAU, Que tudo!".
    Como não poderia deixar de ser, já fui logo pensando na utilidade disso em uma sala de aula: “Poxa, já pensou se eu tivesse o poder da Kayla? Seria fantástico! Até o aluno que não quisesse nada com nada iria aprender!”. Nossa, me divirtia muito enquanto eu dava aula. Toda hora em que um deles brigava, batia no outro, xingava, não queria estudar nem fazer a atividade solicitada, eu pensava: “Eita, que se eu fosse a Kayla, daria um jeito rapidinho... Basta um toque, e eles fariam tudo”. Demais, certo? Eh... Inclusive, essa crônica seria, a princípio, sobre tudo que poderíamos fazer em uma escola com o poder da Kayla, mas mudei de ideia...
    Quer saber? Refletindo melhor sobre isso percebi que nós, professores e professoras, já somos sim como Kayla. Mas com duas diferenças: primeiro, nem precisamos de tocar em ninguém nem nada. Com nossas palavras e ações, alcançamos resultados incríveis. Mas sabe qual é o melhor? A Kayla faz com que as pessoas realizem o que ela quer. Nós, não. Conversamos, debatemos, ensinamos e, junto com as crianças, adolescentes, adultos, seja quem for, caminhamos juntos, sem impor nada. Não é lindo? Construímos o saber juntos!
    Queridos amigos professores: vivemos em tempos difíceis. A cada dia que passa temos tantos desafios: filhos jogados nas escolas pelos pais (os quais cabe a nós educarmos muitas vezes); alunos indisciplinados; corpo gestor nos colocando empecilhos; salários baixos; desvalorização (até por parte de quem é da Secretaria de Educação). E, para conciliar com tudo isso, temos que fazer planos de aula pensando na necessidade de nossa classe; ser sensível aos nosso educandos, ouvi-los e ajudá-los; dominar o conteúdo que ensinamos e dá-lo da melhor forma possível, despertando a classe ao aprendizado e ajudando aqueles que têm mais dificuldade, levando a frente a escola inclusiva; tudo com muito amor... E damos conta de tudo! Pessoal, isso é ou não é ter poderes mais que especiais? É de dar inveja em qualquer mutante... Somos muito melhores do que a Kayla, somos seres excepcionais: somos PROFESSORES!
    Queridos docentes, vamos nos valorizar! Os desafios são muitos, a caminhada é difícil, mas nós podemos! Temos força para isso: Deus nos dá! E com ele, ah, com Ele vamos além! Muito além!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ouço mil vezes a mesma música! E você?

    Eu gosto muito de música. Ouço quase o tempo todo. Trabalho longe de casa e passo o percurso todo com uma mão no volante e outra no rádio (não contem para o Detran). Quando estou em casa, usando computador, comendo, me arrumando para algum lugar, lá estou eu com o som ligado. Mas minha postagem não é sobre música e o que ela nos traz de bom.
    A verdade é que toda vez que gosto de uma música, ouço-a muitas vezes. Mas umas mil vezes seguidas. Só paro de ouvir para trocar o cd por outro, no qual ouvirei outra canção umas mil vezes.
   Afinal, eu gosto mesmo da música. Certo?
   Aí, esses dias, comprei um cd do grupo Vineyard, em português, ao vivo (Vem, esta é a hora). Adoro as músicas “Reina em mim” (minha preferida) e “Teu nome é santo”. E olha só: só ouvia essas canções!
   Até que um dia cansei de ficar mudando as faixas toda hora só para escutar essas mesmas músicas e deixei o cd rolar. Pessoal, foi fantástico! Nossa, todas eram ótimas! Inclusive, teve uma que falou tanto ao meu coração que colocarei a letra abaixo.
   E assim resolvi ouvir outros cds completos. Poxa, tinha tanta música fera!!!! Mas não é isso que importa...
   A questão é que percebi que perdi muito tempo. É bom ouvir a música que gosto, mas para que tanto? Isso tira o meu tempo de escutar outras que são boas, só que eu não sabia.
  Aliás, não só eu, mas NÓS fazemos isso demais! Vamos a um restaurante e comemos o mesmo prato porque ele é gostoso e não sabemos se algum outro será tão bom quanto. Escutamos a mesma rádio, enquanto outra passa músicas fantásticas. Vamos a uma pizzaria e só pedimos a de calabresa e não aquela super diferente que só tem ali (né?). Passamos sempre pelo mesmo lugar, sendo que aquele que achamos que é mais longe na verdade é mais perto e mais florido. Se vamos comemorar algo especial, vamos sempre no mesmo restaurante. Sabe, assim aproveitamos menos a vida!
   Vamos adaptar esse pensamento para a sala de aula. Fazemos o mesmo plano, contamos a mesma piada, fazemos o mesmo passeio. Há vezes que, realmente, não há opções. Mas e quando há? Vai que dá certo? Vai que é melhor? Vai que isso tornará seu dia maravilhoso? Pode ser que não, mas há a possibilidade do SIM. Que tal tentar?
   Ou então nunca damos os parabéns aos nossos alunos, não ligamos a eles quando têm falta, não tratamos seus pais bem, achamos que “aquela criatura” nunca vai aprender mesmo. Que tal ser diferente e dizer NÃO a isso tudo aí? Fazer diferente? Pode dar certo!
   Então, a minha proposta de hoje é: escute suas músicas preferidas sim! Faça o que você gosta! Coma sua comida no seu restaurante preferido! Mas não faça isso 1000 vezes. Faça apenas duas ou três e deixe as outras 997 vezes para testar algo diferente... e errar e voltar atrás... ouvir outra música... e quem sabe gostar... ver um aluno de outra forma... e quem sabe amá-lo.
   As nossas decisões impactam a vida de outras pessoas, influenciam mesmo. Mas a pessoa que elas mais atingem somos nós. Faça diferente esta semana. Por você. Dê-se a chance de se surpreender!
   E aqui vai a letra da música que falei acima. E não: antes que você pergunte, não ouço ela mil vezes. Só quinhentas.
   Hehehe Brincadeira. Escuto poucas vezes, pois quero ver as outras que também podem ser um instrumento de Deus para o meu coração. Espero que ela fale ao seu! Fiz diferente, ainda estou tentando sempre fazer, e valeu a pena. Tente você também! Boa semana!

GRANDE DEUS
(Vineyard – Vicky Beeching
Tradução para o português por Guilherme Silva Franco Pereira)

TUA VOZ É A VOZ QUE
COMANDA O UNIVERSO
TUA VOZ É A VOZ QUE
COMANDA TUDO QUE HÁ EM MIM
O QUE HÁ EM MIM

GRANDE DEUS, SANTO DEUS
TE LOUVO COM AMOR
GRANDE DEUS, SANTO DEUS
MARAVILHOSO ÉS TU
EM TUA GLÓRIA, NO MISTÉRIO
DO TEU AMOR POR MIM

TEUS BRAÇOS CRIARAM
O QUE HÁ NA TERRA E NOS CÉUS
TEUS BRAÇOS ME ABRAÇAM
SEGURO ESTOU EM TUAS MÃOS
EM TUAS MÃOS


sábado, 15 de janeiro de 2011

Flores e espinhos pelo caminho (Parte 2)


    Então, vamos continuar a história.
   Comecei a tomar todos os cuidados com IM, só faltei colocá-la em uma bolha. Se íamos descer as escadas, ela era a primeira da fila, para ir de mãos dadas (leia-se “grudadas”) comigo. Orava o tempo todinho quando estávamos no parque ou na quadra para que ela não se machucasse.
    Então, em uma segunda-feira, IM apareceu na escola com um belo diadema rosa, de lacinho e bolinhas brancas. E esqueceu lá. Peguei e entreguei nas mãos de minha monitora, recomendando que a entregasse na terça sem falta, já que terça era meu dia de coordenação (eu não entrava em sala, a não ser para lhes dar OI) e as crianças tinham aulas de outras coisas (música, inglês etc).
    Não lembro bem o que aconteceu, mas só sei que o diadema sumiu! As minhas alunas tinham a mania de trocar bijuterias na sala e o que eu sei é que deram um fim no arquinho. É, round 4! Mandei bilhetes para todos os alunos da classe para ver se alguém tinha levado por acaso o diadema. Qual foi a resposta? NÃO, ninguém tinha levado.
    E lá fui eu falar com a mãe de IM (até com vontade de rir, afinal JÁ ERA A QUARTA VEZ QUE ALGO ACONTECIA COM IM!) que o diadema sumiu. Ela respondeu: “Poxa, professora, toma mais cuidado da próxima vez”.
    E houve a próxima vez. Eu tentei tomar cuidado, mas quem trabalha com criança sabe: não prevemos nada! Quando a gente pensa que não, é sim! Numa sexta, Y (sim, a mesma que a deixou cair) foi embora mais cedo e pegou sua mochila e lancheira antes que a monitora descesse com elas já arrumadas (no caso, cada mochila com a lancheira do dono já pendurada). E adivinha quem tinha uma lancheira igual a dela? E adivinha qual ela pegou na hora da pressa? Não, sério, não dá vontade de chorar? Pois eu desatei a rir quando minha monitora começou a arrumar tudo e viu a lancheira de Y lá.
    Eu já estava doidinha, pedindo para minha auxiliar, PELO AMOR DE DEUS, contar para a mãe de IM, porque eu não tinha mais cara pra isso. Mas teve que ser eu mesmo. Respirei fundo, me enchi de coragem e... de alegria ao ver que quem tinha vindo buscar IM era a vizinha! Uhuuuuuuuuuuu Ai que alívio! Contei a ela e disse que na segunda mesmo iria destrocar as lancheiras sem falta!
    Mas o alívio durou pouco. A mãe de IM chegou segunda-feira à escola (com a raiva todinha acumulada do final de semana) fervendo! Disse que aquilo era um absurdo: tudo bem trocar as lancheiras, mas por que a professora (ai) não ligou para avisá-la? Se eu tivesse lá, poderia ter dito: “É só uma lancheira! Hoje ela vai pegar de volta! Lancheira, só isso!”, mas provavelmente não falaria nada por não acreditar no que via. Sei é que o trem foi feio: ela fez um escândalo, tanto que outra professora que não tinha nada a ver com a história teve que ir junto com minha monitora até à casa de Y para pegar a lancheira, fazer a troca e assim acalmá-la.
    E esse foi o round 5. Mais uma para a lista “Socorro, tudo acontece com IM”. Mas pensei: o ano está acabando, acho que não vai acontecer mais nada.
    Aí veio o golpe final. No dia do brinquedo (leia-se “Dia no pânico para professores e monitores”, porque ai se algum brinquedo estraga ou não volta pra casa), IM resolveu levar uma boneca. Que era cara. E tinha uma mamadeira. E o que foi que aconteceu? A mamadeira não voltou para casa! Não voltou para casa! E lá veio a mãe de IM conversar comigo. Olha, eu só sei que até passou pela minha cabeça em comprar uma boneca daquela só para pegar a mamadeira! De verdade! Nem que fosse mais de um salário meu. Não, não era possível: de novo, com a mesma menina, eu hein! Que isso!
    Mandei bilhetes para ver se alguém tinha levado sem querer e nada. Perguntei para as crianças e... nada! Eu já estava sem esperanças. Até que minha monitora lembrou que outra criança (ES) tinha levado uma boneca igual a de IM naquele dia. Foi a luz no fim do túnel! Liguei imediatamente para a mãe de ES e contei o ocorrido. Ela achava que ES não tinha levado, mas ia olhar.
    E qual foi a resposta? Ah... SIM, dessa vez foi SIM! Eu quase chorei quando peguei a bendita mamadeira! Entreguei a IM, na frente de seu tio (é, justo no dia em que dá certo não é a mãe que vai buscar. Eita ironia!) na maior satisfação! Ufa, dessa eu escapei.
    E então foi isso. Mas a história não acabou. Tenho que contar a melhor parte. Apesar de tanto obstáculo, não deixei de fazer o meu trabalho da melhor maneira possível. Não vou mentir: claro que isso me desanimava. Poxa, a maioria do que aconteceu nem foi culpa minha. Eram acidentes. Mas mesmo assim eu levava a bronca.
    Mas, a despeito dos percalços, a minha vontade de estar com as crianças era maior. Deus me fez forte. Quando eu achava que não aguentaria mais, Ele vinha e me dava uma injeção de ânimo. Meu Deus é o Todo-Poderoso! Não tratei IM mal nunca, mesmo tendo raiva de seus pais. E não era por medo deles não: eu realmente gostava dela. E também de toda a turma, meus primeiros aluninhos! Eles foram um presente de Deus em minha vida e isso inclui, sem sombra de dúvida, IM!
    O fato é que Deus honrou meu esforço. Realmente, aconteceu de tudo com IM, mas Deus fez com que seus pais vissem tudo de bom que eu fazia por ela e pela turma. No último dia de aula, a mãe de IM até me agradeceu. Disse que a filha dela me amava e morria de ciúmes de mim quando eu ficava com as outras crianças, pode? Tirou fotos minhas com ela e, no outro ano, fez questão de vir com IM falar comigo e ficou feliz de eu ainda estar na escola. No seu aniversário, fizeram uma festinha no colégio e falaram que eu tinha de passar lá. Até lembrancinha ganhei!
   Em 2010, IM saiu de lá. E eu também: Deus fez com que eu passasse em um concurso na área de educação do governo daqui. No dia em que meu aviso prévio ia vencer e eu ia tomar posse nesse cargo, fui ao shopping e sabe quem eu encontrei na fila de uma loja? A mãe de IM. Ela falou comigo, perguntou se eu estava na escola e eu contei a bênção que havia recebido. Ela disse algo que nunca vou esquecer: “Poxa, que bom, Lívia. Bom pra você e pena para a escola, que vai perder uma ótima professora”. Inacreditável, não é? Não para o meu Deus. Isso não é para minha glória, é para glória dEle. Depois de tudo o que aconteceu, que para ela era minha culpa, como ela podia gostar de mim? Deus. Deus trabalhou em seu coração e fez com que ela visse por outro lado. Eu não sou nada sem Ele. Se sou boa professora, é porque Ele me ajuda todos os dias.
    Os pais de IM não foram os únicos com quem tive problema. Tive outros e sei que terei, com finais felizes (como esse) ou tristes. Não agradei a todos. Mas Deus me ajudou a ser firme em cada caso. Irei relatá-los com o tempo. Mas de todos tiro a mesma lição: Deus me ajuda em todos os momentos! Ele me sustenta e com Ele enfrento diversas situações e sou persistente.
    Querido leitor ou leitora: Não sei quais foram as situações que você já enfrentou. Mas acredite: não desista! O final pode até não ser necessariamente feliz, mas você terá a sensação de que fez o que te cabia.  
    Seja persistente até o final, o qual, eu espero, seja muito bom!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Flores e espinhos pelo caminho

    Essa eu com certeza não poderia deixar de contar. Qual é o professor que nunca teve problema com algum pai de aluno? A história abaixo foi uma das melhores que aconteceu comigo (digo “melhores” porque teve um final feliz). Preparado para rir? Espero que sim!
   Primeiro, relatarei a parte boa. Em 2008, comecei a trabalhar em uma escola particular como estagiária. Era meu primeiro emprego e estava ansiosa para ver como uma sala de aula funcionava, já que meu curso de Pedagogia na universidade era teórico demais.
   O ano letivo começou e eu fui colocada em uma turma de Infantil V (crianças que fariam 5 anos no primeiro semestre ou 6 no segundo semestre). Mas, mais ou menos em abril, uma professora do Infantil IV (que irei chamar de S*) descobriu que estava grávida, teve alguns probleminhas e pegou atestados médicos. Os pais começaram a reclamar, pois, sempre que chegavam para buscar seus filhos, tinha uma pessoa diferente na sala com as crianças.
   Até que no início de maio a professora S* pegou 8 dias de atestado. A diretora, então, resolveu me colocar lá nesse período, mas acabou optando por me retirar definitivamente da sala em que eu estava e me mudar para a turma de S*. Trabalharíamos lado a lado e, se ela precisasse pegar mais algum atestado, eu estaria ali com a criançada.
   E assim realizei meu sonho: passei a ser professora! E como fui abençoada: foi difícil no começo (muito, na verdade), mas depois... Ah! Como amo até hoje aquelas crianças! Inclusive, já até escrevi sobre eles (na crônica “Dentes de leite”) e voltarei a falar outras vezes para, quem sabe, dar mais detalhes sobre a minha saída do Infantil V e esse começo no Infantil IV. Mas, por hora, voltemos à história. Então, a turma era ótima, mas nem por isso tudo era um mar de rosas...
   Primeiro, os pais já estavam bravos pelos filhos terem ficado mais de um mês sem uma pessoa só substituindo a professora. Para eles, houve um pouco de relapso por parte da escola. Mas quem, de certa forma, levou a culpa fui eu.
   Segundo, eles mal me conheciam. Viam-me como a “estagiariazinha” que foi promovida e nem tinha experiência. Uma “Zé Mané”. Mais uma vez: quem perdeu pontos? Eu.
   E tinha o que mais me preocupava: fazer com que as crianças gostassem de mim. Afinal, para eles tudo estava bagunçado também. E quem tinha de pegar essa responsa era... EU, mas peguei com o maior prazer! E Deus me abençoou grandemente!
   Então foi assim. Fui pouco a pouco conquistando as crianças, cada dia descobria mais desse universo encantador deles! S* voltou e trabalhamos juntas de maio até setembro, quando ela ganhou seu bebê, que nasceu de 6 meses. No dia seguinte, já recebi a notícia: “Lívia, toma que o filho é teu” (ou melhor, os filhos). É, nada mal para uma iniciante... Quando S* estava comigo, dividíamos tudo: correções de cadernos, murais e mais murais, relatórios. Mas, agora, para quem sobrou tudo isso? Eu!
   É, fácil não foi, mas Deus me abençoou e eu consegui graças a Ele! Aprendi na dor, mas aprendi. Ainda bem que tinham as crianças para fazer valer todo o esforço! Mas, em meio às flores, também cresceram espinhos...
   Veio outubro e eu estava bem empolgada, afinal, teria meu primeiro dia do professor! Mal sabia eu o que viria... Enfim, bem no inicio do mês, um aluno meu (que era muito inteligente, mas tinha um comportamento difícil) ficou com raiva (não me lembro do motivo), pegou seu copo de água e jogou em cima de IM* (colocarei apenas as siglas dos nomes), uma aluna minha bem gracinha (era a menorzinha da sala e bem meiga). Molhou a menina todinha! Esse foi o primeiro round, porque, é claro, quem é professor me entende: parece que quando algo errado acontece com um aluno, vai até ao final do ano.
   Na semana da criança, veio o segundo round. Eu e as outras professoras fizemos um rodízio e cada uma passava na sala da outra fazendo brincadeiras. Fui em minha sala e mandei um beijo para as crianças antes de passar para a próxima turma. E alguns alunos vieram correndo me abraçar. E entre eles IM. Quando ela virou para voltar à sala, PAH! Deu de frente com seu colega (o mesmo que jogou água nela), o qual também estava correndo para mim, e machucou seu rosto. Expliquei para seus pais, disse que foi sem querer (e foi mesmo), mas contentes não ficaram.
   E então veio o golpe fatal. Ainda na semana da criança, bem no dia do professor, IM estava brincando com Y, sua colega de classe. Observei as duas e virei para trás por apenas 3 segundos. Mas crianças não precisam nem de meio milésimo para fazer suas artes. De repente, só escuto um “BAH” no chão. O que tinha acontecido? Ha, adivinhem: Y pegou IM no colo, não aguentou e deixou-a cair no chão. De cabeça. Round 3.
   É. Pois é. Ela não chorou, não foi nada assim que deixasse um “galo”, mas, quando a criança bate a cabeça, os pais têm que ser comunicados imediatamente, mesmo sendo de leve. Bom, pelo menos era esse o procedimento na escola em que eu trabalhava (e, na verdade, acredito que tem de ser assim mesmo). Aí foi aquele fuzuê: tentei ligar várias vezes para o pai, não consegui falar. Quando ele ligou na escola, outra pessoa contou e ele ficou furioso. Liguei para a mãe, estava em reunião, teve que sair só para falar comigo e receber a notícia que sua filha, de novo, se machucou.
   Para mim, eles só demonstraram raiva, mas nada falaram. Mas para a direção: “Poxa, duas vezes na mesma semana? O que vai acontecer amanhã? Ela vai quebrar o braço, a perna?”. Fizeram um estardalhaço! Saíram contando a história para quem passasse perto deles. E, claro, a diretora veio me contar tudo. E não adiantava explicar que, mesmo que eu estivesse de olho o tempo todo, isso ia acontecer, criança se machuca, foi um acidente. Esquece. Ninguém quer saber disso. O que importava era que ela se machucou DUAS VEZES NA MESMA SEMANA!
   E, assim, meu primeiro dia do professor foi marcado por lágrimas. Claro que teve coisas boas, mas o fato é que o saldo foi, infelizmente, negativo.
   O bom, aliás, o ótimo, é que IM me amava! Gostava mesmo de mim e a recíproca era verdadeira. E os pais de IM sabiam. E eu não deixava que nada atrapalhasse isso. Por mais chateada que pudesse estar com os pais dela com o escândalo que fizeram (afinal, tudo não tinha passado de um susto - a queda não foi séria), decidi que a atitude deles não influenciaria a minha. E não influenciou mesmo: continuei tratando IM da melhor forma possível, mesmo quando outros problemas vieram. Sim, outros. Ah, você achava que tinha mesmo acabado? Hum-hum. Espere até a próxima crônica para saber o que aconteceu e como a história acabou!

Janelinhas do saber

    Vitória saiu da escola chateada. Seu dente estava mole! Chegou a sua casa, foi no espelho, viu a situação e ficou mais chateada ainda. Como aquilo doía!
   Resolveu então beliscar algo enquanto esperava o almoço. Pegou um pão e deu aquela mordida.
   “Aaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiii. Buáááááááááááááá”.
   Sua mãe entrou correndo na cozinha. Vitória chorava e chorava e segurava seu dentinho. Sua mãe a pegou no colo e levou-a ao espelho para ver seu sorriso: um lindo sorriso banguela! Vitória começou a chorar de novo!
   “Mãe, eu estou horrível! Por que temos que perder os dentes? Por que eles só não vão crescendo junto com a gente igual os braços e pernas e depois param de crescer também? Olha só o tamanho dessa `janelinha`!”.
   Sua mãe riu bastante, mas sabia que, de certa forma, aquilo fazia sentido. Deu um abraço em Vitória e respondeu a sua pergunta:
   “Filha, quando a gente nasce, somos bem pequenininhos e não entendemos direito o que está ao nosso redor. A medida que o tempo passa, vamos aprendendo muito: a andar, falar, as cores, a letrinha com que nosso nome começa, a comer sozinha, os números, o alfabeto... Então, o nosso coração está tão feliz que o nosso corpo responde: para celebrar esse momento, os dentinhos de leite começam a cair, sinalizando que estamos crescendo”.
   “Então, mamãe, por que os dentes da Ana e da Clara lá na escola caíram antes do meu? É porque elas aprenderam mais do que eu?”
   A mãe de Vitória riu. “Não, filha. Cada corpo tem seu tempo: em algumas crianças os dentes caem antes, em outras, depois, mas isso não é nada. Tudo simboliza a mesma coisa: a celebração do nosso crescimento. Se o de seu colega cai antes do seu, não quer dizer que ele é melhor, nem que sabe mais ou que o coração dele está mais feliz. Apenas o corpo dele responde diferente do seu.
  O que importa não é isso, quem é mais ou menos banguela, tem mais ou menos `janelinhas`, como você gosta de dizer. O que importa é que ser banguela não é feio, como você pensa. É lindo por simbolizar que você a cada dia está crescendo mais e mais e aprendendo coisas novas.”
   Vitória enxugou as lágrimas e olhou novamente seu sorriso-banguela no espelho. Agora estava mais feliz. Pensou em quanto já tinha aprendido até ali: já escrevia em letra cursiva, lia frases e pequenos textos. Era uma das últimas da sua turma a perder um dentinho, mas sabia que isso não era o principal. O importante é que a cada dia aprendia algo novo e ser banguela, ter suas “janelinhas”, mostrava isso. Mas então franziu a testa e perguntou:
   “Mamãe, e quando eu tiver sua idade? Vou aprender muita coisa até lá. Meus dentes vão continuar caindo?”
   “Ai, filha, você é uma piada. Não, os adultos não perdem mais os dentes como as crianças. Isso só acontece uma vez e é exatamente na infância porque essa fase é muito especial, a melhor de todas. O que é uma pena. Sabe, Vitória, se a gente perdesse os dentes a cada período que aprendêssemos algo, nos lembraríamos em como é ser criança. De ver como vocês veem, sentir como sentem, sorrir de coisas simples... Parece que perdemos o nosso coração de criança.”
   “Ah, não, mamãe. E se eu crescer e ficar assim? Eu não quero. Como faço para crescer, mas continuar tendo o coração de criança?”
   “Filha, isso é mais fácil do que pensamos. Trocamos dentes, mas continuamos com o mesmo coração. Se quisermos continuar com a visão de criança, devemos crescer nunca deixando de se maravilhar com o mundo, ser sensível ao nosso próximo, rir com pureza. Preste atenção em você, seus amigos, repare nas suas atitudes. Guarde isso em seu coração para não deixar a dureza da vida tirar isso de você, como muitos adultos fazem.”
   Vitória então deu um pulo. “Mas mamãe, olha que coisa boa. Já que o nosso coração não cai e ganhamos outro, como nosso dentinho, todo adulto que quiser pode voltar a se sentir como criança. É só se concentrar, observar a gente, relembrar como era e pronto, o coração descongela.”
   A mãe de Vitória lhe deu um beijo e a abraçou. “Isso mesmo, filha. Viu como vocês crianças são especiais? Pensam de um jeito que nós, adultos, esquecemos.
   Ah, e só para reforçar: você ficou linda com essa janelinha!”
   “Obrigada, mamãe”.
   E Vitória ia saindo, quando abriu um sorrisão para sua mãe e disse: “Mamãe, ainda bem que trocamos o nosso dentinho e não nosso coração, não é?”.
 

A diferença que o professor faz

   Ontem estava lendo a revista Nova Escola de outubro (é, mais uma vez atrasei a leitura) e me deparei com uma propaganda do Sistema de Ensino UNO. Ela contava que a mãe de Isaac Newton, ao ficar viúva pela segunda vez, tentou fazer com que ele virasse agricultor (profissão que ele detestava). Mas foi um professor seu, Henry Stokes, que convenceu a mãe de Newton a mandá-lo de volta à escola para completar sua educação.
   Até ontem nunca havia ouvido falar de Henry Stokes. Mas não é porque não foi famoso que sua importância diminui. Veja bem, se não fosse por ele, não haveria a própria LEI DA GRAVIDADE, já que Newton estaria "ocupado demais plantando maçãs ao invés de pensar o porquê delas caírem" (como dizia na propaganda)! E nisso comecei a observar: pode até ser que esse professor nem tenha vivido o suficiente para ver em que Newton se tornou. Ou até tenha visto. Mas o fato é que os frutos vieram. E para nós isso também vale.
   Deixa eu contar uma história simples que aconteceu comigo. Recebi, mais ou menos no meio do ano, um aluno chamado Alexandre* (seu nome verídico é outro). Ele sabia escrever seu nome, mas nada sabia das letras do alfabeto nem de números. Era esperto, cantava e conversava o tempo todo. Uma tarde com ele, aos olhos de outras pessoas, era algo que esgotava. Imagina para mim, que estava ali o tempo todo. O fato é que ele tinha uma vontade imensa de aprender, ficava atrás o tempo todo querendo entender os exercícios, mas tinha muita dificuldade. Muita mesmo. Mas resolvi não desistir. Era difícil, tinha horas que o que eu queria mesmo era largar de mão, mas sempre pensava em algo que me animava: “Não posso deixá-lo. Não sei quais serão os frutos lá na frente, se serão bons ou ruins, mas a minha parte tenho que fazer. Vai que é exatamente isso que fará toda a diferença em sua vida!”.
    Alexandre, com o tempo, começou a ver a lógica entre o som e as letras. Já fazia seus deveres com independência, com alguns erros, mas a cada dia dava um passo adiante.
   Ao final do ano, sua mãe veio conversar comigo. Disse que seu esposo, pai de Alexandre, havia voltado a estudar (um sonho seu) e, muitas vezes, ao ter dúvida nos deveres, perguntava a ela. Como estava sempre atarefada com algo, pedia a Alexandre para ajudá-lo, pois dizia: “Pede a seu filho, ele sabe mais que você”. Alexandre ia, ensinava a seu pai do seu jeitinho, mas estava ali, a seu lado. Seu pai consegue avançar hoje com a ajuda dele.
   Isso realmente me tocou: quanta diferença nós, professores, fazemos! Isso é apenas uma história simples. Imagine os outros alunos. Quanta diferença posso ter feito? Quanta diferença professores pelo Brasil afora não fazem, ajudando seus educandos das mais variadas formas, um exemplo para mim, que estou apenas começando.
   Será que o pai de Alexandre voltou a estudar incentivado por seu filho? Será que, nos próximos anos, estarão juntos nessa caminhada do aprendizado, chegando até, quem sabe, à faculdade? Não sei. Será que Alexandre será um Isaac Newton? Não sei, pode ser até que nunca saiba. Mas a verdade é que posso até não ver os frutos, mas sei que eles virão. Alexandre não precisa ser famoso, mas se fizer a diferença na vida de uma pessoa já me sinto realizada.
   Aliás, é o que eu como professora sempre peço em minhas orações: “Senhor, meu Deus, não sei quantos alunos passarão por mim nesses 25 anos que, se for da Tua vontade, terei nessa abençoada profissão. Pode ser que mais de 700! E tenho certeza que já sou uma professora muito abençoadinha por já ter passado três anos com alguns deles, ensinando e, mais até, aprendendo com eles todos os dias. Mas eu te peço que ao menos 1 deles faça a diferença onde quer que vá, no que quer que faça. Porque se pelo menos 1 fizer a diferença, o que esse aluno não poderá fazer pelo mundo? Pelo Brasil?”.
   Que nós, professores, nos sintamos sempre privilegiados por isso: lidamos com vidas e vidas são sempre surpreendentes. Não vamos desistir: vamos até o fim. Passaremos por decepções, cansaços, desrespeito, tristeza, mas sejamos firmes! Poderemos nunca ser famosos, mas fizemos nossa parte. Afinal, nosso esforço fará toda a diferença! Sempre!

Passado e Futuro

Um poema de minha autoria que tem tudo a ver com o ano letivo que já está para começar!

Quando olho para trás, vejo sorrisos partindo
Quando olho para trás, vejo meus alunos indo
E agora estou só...
 
Quando olho para trás, relembro momentos especiais
Viagens fantásticas, aventuras geniais...
E agora estou só...
 
Ano Novo!
 
E tudo mais uma vez começa
Medo, agonia, preocupação
No teatro da vida, mais uma peça
Mas algo começa a alegrar meu coração
 
...
 
Olho para frente, e penso nas risadas que darei
Olho para frente, e penso em como crescerei
E não me sinto tão só...
 
Olho para frente e não esqueço o passado
Mas o futuro é o mais almejado
E agora me sinto mais feliz...

Dentes de leite

   Ano passado, dentre muitas coisas boas que me aconteceram, pude participar da formatura de primeiro ano do ensino fundamental de meus primeiros alunos. Eles foram meus no Infantil IV, em 2008, e sempre foram especiais para mim, afinal, foi com eles que tive a oportunidade de realizar meu sonho e comecei minha caminhada no ensino.

    Houve um momento da festividade, porém, em que a escola apresentou um belo vídeo em homenagem aos alunos. Nele, aparecia uma foto deles ainda bebês e depois uma imagem das crianças descendo o escorregador, estampando um belo sorriso, e caindo direto na piscina de bolinhas. Neste momento, reparei em algo: estavam banguelas! Alguns até com os novos e definitivos dentes já crescidos! Então pensei: cadê aqueles dentinhos pequenos e certinhos? É, meus bebês cresceram... E eu pude acompanhar...

   E comecei a divagar... Recentemente, estava viajando de avião sozinha. Não conhecia ninguém ali, mas, por duas horas, estivemos juntos. Se algo acontecesse, seria para todos nós. Porém, quando o avião aterrissou, cada um foi para sua casa, para o seu afazer, e perdemos o que tínhamos em comum.

  Penso que a sala de aula também é assim: uma viagem. Mas, ao contrário do exemplo anterior, temos muito em comum. Estamos juntos nessa! E, ao final do ano, quando o “avião pousar”, cada um sim irá seguir um rumo, mas fizemos marcas uns nos outros que durarão para sempre. Não passaremos despercebidos para eles e vice-versa. No próximo ano, talvez, possamos vê-los crescer, passando por nossa porta, dando tchau, nos enchendo de saudades e doces lembranças. E, se tivermos sorte, poderemos acompanhar esse crescimento de perto (ou de longe, como no meu caso, o que também é válido) por um longo tempo.

    Eles irão mudar de classe. Durante um ano inteiro, foram nossos. Viajamos juntos. E eles cresceram! E presenciar isso é um privilégio! Passaram-se um, dois anos, e eles aprenderam a ler, escrever em letra cursiva, a fazer redações... E, de alguma forma, fizemos parte dessa história. Ajudamos a deixar os dentes de leite caírem...

    Hoje, estava na secretaria da escola em que trabalho atualmente e observei as novas matrículas. De quem aquelas crianças seriam? Como seriam formadas as turmas? Que amizades seriam feitas? Como elas afetarão suas vidas? O que serão no futuro? Eu não sei... Mas observar isso por um período (esse ano, nos próximos) é, dentre muitos outros, um dos presentes que temos como professoras.

   Quanto a meus alunos do começo da história, em 2011 eles estarão no segundo ano. Os meus alunos de 2009 estarão no primeiro, irão se alfabetizar. E, se Deus quiser, verei a formatura deles também. Infelizmente, não trabalho mais na escola em que estão. Não verei seus sorrisos, pouco a pouco, se tornando próximos ao “de gente grande”. Verei apenas quase pronto! Mas sempre me lembrarei daquele doce sorriso infantil que me era mostrado quando eu falava algo engraçado. Ou no momento de uma brincadeira gostosa no parque... Ou nos dias de festa. E, mais uma vez, me sentirei uma abençoadinha! Uma privilegiada!

Contagem progressiva

   E aqui vamos nós... após o Natal e o 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1... Ano novo. Ui! Que medo! Sim, você leu direito. Sinto medo. Nunca gostei de Réveillon. Sério!

  Deixe-me explicar: amo o Natal. Nossa, aquela sensação única de “Uau, acabou” que o acompanha é ótima. Ninguém entende melhor isso do que uma professora. Não é um “Uau, graças a Deus que não verei mais meus alunos” e sim um” “Uau, consegui!”. Após um ano de dificuldades, quem sabe de murais intermináveis, correções impecáveis de cadernos, relatórios minuciosos, festas, e, quem sabe, conciliando tudo com estudos, filhos, casa... Acabou.

   Mas vamos do início. Tudo começa em janeiro, com a volta das férias. Receber alunos, conhecer pais, conferir materiais (uau, essa é a pior), murais de boas-vindas. Primeiro dia de aula, choros, abraços, conhecemos pouco as crianças.

   Passa-se fevereiro, carnaval, vem março e abril, quem sabe, com uma festa para celebrar a paz (ou Páscoa, dependendo da escola), com mais lembrancinhas. Vem maio, relatórios, dia das mães (cartões, presentes, ai, socorro!), junho, com muitos ensaios, coreografias, e uma bonita apresentação de Festa Junina. Tudo regado com planos de aula, correções de caderno, livros, e aquela rotina louca (e única) que toda escola tem. Aqui, já conhecemos melhor os alunos, e isso nos anima a enfrentarmos tudo.

   Descansamos um pouquinho em julho, para enfrentar a seca (sim, minha cidade é o máximo!) de agosto e setembro, que não deixa passar o dia dos pais e, quem sabe, uma Festa da Família. E, após tantas lutas, tantas noites mal dormidas (ah, quando se dormia), outubro chega ao fim. Ainda não é Natal, mas os shoppings, a cidade, tudo se cobre com árvores enfeitadas, bonecos de neve (uma ironia em meio ao calor do Brasil, mas são lindos), parece que uma "magia" toma conta de nós! E nos dá garra para ainda somarmos à nossa lista de “O que fazer” cantatas na igreja, peças com as crianças, e fazemos tudo com muita alegria.

   Mas, é claro, no meio de tanta confusão, não paramos para apreciar nada. Vemos, achamos lindo, mas tudo é rápido, estamos na correria de novembro: fechar tudo, diário, boletins, lembrancinhas.

  Então, vem dezembro, fazemos aquela despedida, quem sabe mais uma festa (ah, isso não pode faltar) e dizemos tchau àqueles companheiros de todo um ano, que nos ajudaram, mesmo sem saber, a passar pelas situações mais bizarras. Estamos aliviadas, não por deixá-los, mas porque “Yes, conseguimos! Uhu!”. Nem a gente mesmo acreditava, na verdade, mas mais um ano se passou.  

    Então, no meio de tanto alívio, no meio daquela sensação gostosa que eu, repito, só uma professora realmente sabe, agora sim paramos e o que vemos?  Aquela linda decoração, com outros olhos... Bebendo de cada gota daquele momento...

  Ai, sinto isso desde pequena. Após provas, fim de ano, quando vestibular acaba, nossa, para acrescentar mais motivação a tudo, está o Natal! Como não gostar? Ele é, além de comemorar o nascimento do rei dos Reis, o símbolo de que tudo se concluiu!

   Mas, então, vem o Ano Novo... E parece que a ficha cai. Tudo irá recomeçar. Tudo que vivemos naquele ano passou... E surge aquela dúvida: e agora? Como será o próximo ano? Se não é seu caso, ótimo, mas sempre foi o meu e, acredite, é angustiante. Para muitos, é a oportunidade de algo novo, fazer o que não foi feito e tudo mais, mas, para mim, foi sempre perda. Tudo de bom passou. Meus alunos se foram, será que irei gostar dos próximos? Será que terei momentos tão bons? Será que dará tudo certo de novo? Será que dará tudo certo? Será... ?

   Mas então há algo que me faz superar isso. Todo ano eu repito isso a mim mesma e gostaria de passar isso a você, caso se sinta igual a mim. Há anos, vi uma propaganda de um relógio. Nem lembro qual relógio era, mas o fato é que ela dizia (não com essas palavras) que na nossa vida temos momentos muito bons. E há alguns que são tão bons que, se pudéssemos, faríamos o tempo parar naquele exato instante para desfrutarmos dele eternamente. Mas não podemos... E isso é perfeito, porque se a gente pudesse parar o tempo, deixaríamos de ter tantos outros momentos bons, iríamos perder aventuras maravilhosas.

   Então, é isso que começo a pensar em todo ano novo. Que venham mais momentos únicos e de tirar o fôlego! Que venha mais um ano no qual faremos novas amizades, viagens inesperadas (ou esperadas), veremos filmes lindos, escutaremos músicas fofas e que nos fazem sonhar! Que venha mais um ano de surpresas (que até podem mudar nossa vida), que venham pessoas (que igualmente podem mudar nossas vidas; quem sabe elas não serão a surpresa?), que venham alunos novos, que venham eventos novos para novas fotos! Sim, que venham mais primeiros dias de aula, mais murais, mais festas! Passaremos por tudo isso, pois não sabemos o que virá e isso é mágico!

   Não perdemos os outros alunos, apenas teremos mais amigos, com os quais iremos nos aventurar. Só de pensar nisso já dá animação! Mais pessoas para amar... Mais pessoas que entrarão nos nossos corações. Isso é válido mesmo que no ano passado você tenha tido momentos maravilhosos, como, sei lá, você tenha se formado, passado no concurso dos sonhos, tenha se casado, recebido um carinho que acha que nunca mais irá receber um melhor: acredite, o ano que se inicia pode trazer algo a mais!

   E se você não é igual a mim, então mude o que tem que mudar, siga sua lista de planos de ano novo! Mas lembre-se: todo dia pode ser ano novo. Todo dia é dia de mudar! Pode ser uma terça de tarde, mas, se você quer, pode mudar algo, seja você, sua vida, enfim.

   Que esse ano seja de bênçãos! Acima de tudo, muito de Deus! Que seja um ano que não tenhamos medo de tomar decisões importantes e que, quando elas forem tomadas, tragam por consequência bons momentos, inesquecíveis... Quem sabe não é o ano em que, finalmente, iremos voltar a fazer aquele idioma que há tanto tempo temos empurrado adiante, aprender aquele instrumento lindo (mesmo que leve 10 anos para isso), começar a faculdade, enfim... Há tanto para se sonhar, certo?

   Logo, espero que, ao olhar para trás, vejamos doces momentos e não queiramos que o tempo pare e sim continue... para que desfrutemos de mais e melhores tempos assim! Feliz Ano Novo! Viva seu 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10...