sábado, 15 de janeiro de 2011

Flores e espinhos pelo caminho (Parte 2)


    Então, vamos continuar a história.
   Comecei a tomar todos os cuidados com IM, só faltei colocá-la em uma bolha. Se íamos descer as escadas, ela era a primeira da fila, para ir de mãos dadas (leia-se “grudadas”) comigo. Orava o tempo todinho quando estávamos no parque ou na quadra para que ela não se machucasse.
    Então, em uma segunda-feira, IM apareceu na escola com um belo diadema rosa, de lacinho e bolinhas brancas. E esqueceu lá. Peguei e entreguei nas mãos de minha monitora, recomendando que a entregasse na terça sem falta, já que terça era meu dia de coordenação (eu não entrava em sala, a não ser para lhes dar OI) e as crianças tinham aulas de outras coisas (música, inglês etc).
    Não lembro bem o que aconteceu, mas só sei que o diadema sumiu! As minhas alunas tinham a mania de trocar bijuterias na sala e o que eu sei é que deram um fim no arquinho. É, round 4! Mandei bilhetes para todos os alunos da classe para ver se alguém tinha levado por acaso o diadema. Qual foi a resposta? NÃO, ninguém tinha levado.
    E lá fui eu falar com a mãe de IM (até com vontade de rir, afinal JÁ ERA A QUARTA VEZ QUE ALGO ACONTECIA COM IM!) que o diadema sumiu. Ela respondeu: “Poxa, professora, toma mais cuidado da próxima vez”.
    E houve a próxima vez. Eu tentei tomar cuidado, mas quem trabalha com criança sabe: não prevemos nada! Quando a gente pensa que não, é sim! Numa sexta, Y (sim, a mesma que a deixou cair) foi embora mais cedo e pegou sua mochila e lancheira antes que a monitora descesse com elas já arrumadas (no caso, cada mochila com a lancheira do dono já pendurada). E adivinha quem tinha uma lancheira igual a dela? E adivinha qual ela pegou na hora da pressa? Não, sério, não dá vontade de chorar? Pois eu desatei a rir quando minha monitora começou a arrumar tudo e viu a lancheira de Y lá.
    Eu já estava doidinha, pedindo para minha auxiliar, PELO AMOR DE DEUS, contar para a mãe de IM, porque eu não tinha mais cara pra isso. Mas teve que ser eu mesmo. Respirei fundo, me enchi de coragem e... de alegria ao ver que quem tinha vindo buscar IM era a vizinha! Uhuuuuuuuuuuu Ai que alívio! Contei a ela e disse que na segunda mesmo iria destrocar as lancheiras sem falta!
    Mas o alívio durou pouco. A mãe de IM chegou segunda-feira à escola (com a raiva todinha acumulada do final de semana) fervendo! Disse que aquilo era um absurdo: tudo bem trocar as lancheiras, mas por que a professora (ai) não ligou para avisá-la? Se eu tivesse lá, poderia ter dito: “É só uma lancheira! Hoje ela vai pegar de volta! Lancheira, só isso!”, mas provavelmente não falaria nada por não acreditar no que via. Sei é que o trem foi feio: ela fez um escândalo, tanto que outra professora que não tinha nada a ver com a história teve que ir junto com minha monitora até à casa de Y para pegar a lancheira, fazer a troca e assim acalmá-la.
    E esse foi o round 5. Mais uma para a lista “Socorro, tudo acontece com IM”. Mas pensei: o ano está acabando, acho que não vai acontecer mais nada.
    Aí veio o golpe final. No dia do brinquedo (leia-se “Dia no pânico para professores e monitores”, porque ai se algum brinquedo estraga ou não volta pra casa), IM resolveu levar uma boneca. Que era cara. E tinha uma mamadeira. E o que foi que aconteceu? A mamadeira não voltou para casa! Não voltou para casa! E lá veio a mãe de IM conversar comigo. Olha, eu só sei que até passou pela minha cabeça em comprar uma boneca daquela só para pegar a mamadeira! De verdade! Nem que fosse mais de um salário meu. Não, não era possível: de novo, com a mesma menina, eu hein! Que isso!
    Mandei bilhetes para ver se alguém tinha levado sem querer e nada. Perguntei para as crianças e... nada! Eu já estava sem esperanças. Até que minha monitora lembrou que outra criança (ES) tinha levado uma boneca igual a de IM naquele dia. Foi a luz no fim do túnel! Liguei imediatamente para a mãe de ES e contei o ocorrido. Ela achava que ES não tinha levado, mas ia olhar.
    E qual foi a resposta? Ah... SIM, dessa vez foi SIM! Eu quase chorei quando peguei a bendita mamadeira! Entreguei a IM, na frente de seu tio (é, justo no dia em que dá certo não é a mãe que vai buscar. Eita ironia!) na maior satisfação! Ufa, dessa eu escapei.
    E então foi isso. Mas a história não acabou. Tenho que contar a melhor parte. Apesar de tanto obstáculo, não deixei de fazer o meu trabalho da melhor maneira possível. Não vou mentir: claro que isso me desanimava. Poxa, a maioria do que aconteceu nem foi culpa minha. Eram acidentes. Mas mesmo assim eu levava a bronca.
    Mas, a despeito dos percalços, a minha vontade de estar com as crianças era maior. Deus me fez forte. Quando eu achava que não aguentaria mais, Ele vinha e me dava uma injeção de ânimo. Meu Deus é o Todo-Poderoso! Não tratei IM mal nunca, mesmo tendo raiva de seus pais. E não era por medo deles não: eu realmente gostava dela. E também de toda a turma, meus primeiros aluninhos! Eles foram um presente de Deus em minha vida e isso inclui, sem sombra de dúvida, IM!
    O fato é que Deus honrou meu esforço. Realmente, aconteceu de tudo com IM, mas Deus fez com que seus pais vissem tudo de bom que eu fazia por ela e pela turma. No último dia de aula, a mãe de IM até me agradeceu. Disse que a filha dela me amava e morria de ciúmes de mim quando eu ficava com as outras crianças, pode? Tirou fotos minhas com ela e, no outro ano, fez questão de vir com IM falar comigo e ficou feliz de eu ainda estar na escola. No seu aniversário, fizeram uma festinha no colégio e falaram que eu tinha de passar lá. Até lembrancinha ganhei!
   Em 2010, IM saiu de lá. E eu também: Deus fez com que eu passasse em um concurso na área de educação do governo daqui. No dia em que meu aviso prévio ia vencer e eu ia tomar posse nesse cargo, fui ao shopping e sabe quem eu encontrei na fila de uma loja? A mãe de IM. Ela falou comigo, perguntou se eu estava na escola e eu contei a bênção que havia recebido. Ela disse algo que nunca vou esquecer: “Poxa, que bom, Lívia. Bom pra você e pena para a escola, que vai perder uma ótima professora”. Inacreditável, não é? Não para o meu Deus. Isso não é para minha glória, é para glória dEle. Depois de tudo o que aconteceu, que para ela era minha culpa, como ela podia gostar de mim? Deus. Deus trabalhou em seu coração e fez com que ela visse por outro lado. Eu não sou nada sem Ele. Se sou boa professora, é porque Ele me ajuda todos os dias.
    Os pais de IM não foram os únicos com quem tive problema. Tive outros e sei que terei, com finais felizes (como esse) ou tristes. Não agradei a todos. Mas Deus me ajudou a ser firme em cada caso. Irei relatá-los com o tempo. Mas de todos tiro a mesma lição: Deus me ajuda em todos os momentos! Ele me sustenta e com Ele enfrento diversas situações e sou persistente.
    Querido leitor ou leitora: Não sei quais foram as situações que você já enfrentou. Mas acredite: não desista! O final pode até não ser necessariamente feliz, mas você terá a sensação de que fez o que te cabia.  
    Seja persistente até o final, o qual, eu espero, seja muito bom!

3 comentários:

  1. Kkkkkkkkkkk Muito boa a história! Amei!

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  2. Adorei a história amiga!!! Más, apezar dos transtornos o importante é, que Deus te concedeu vitória em todas elas.....

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  3. Legal, como é bom sabermos que por maior que sejam as situações vividas, temos Jesus, Aquele que sempre irá nos honrar, só Ele é capaz de fazer coisas surpreendentes em nossas vidas.Fik na paz.

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