quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A diferença que o professor faz

   Ontem estava lendo a revista Nova Escola de outubro (é, mais uma vez atrasei a leitura) e me deparei com uma propaganda do Sistema de Ensino UNO. Ela contava que a mãe de Isaac Newton, ao ficar viúva pela segunda vez, tentou fazer com que ele virasse agricultor (profissão que ele detestava). Mas foi um professor seu, Henry Stokes, que convenceu a mãe de Newton a mandá-lo de volta à escola para completar sua educação.
   Até ontem nunca havia ouvido falar de Henry Stokes. Mas não é porque não foi famoso que sua importância diminui. Veja bem, se não fosse por ele, não haveria a própria LEI DA GRAVIDADE, já que Newton estaria "ocupado demais plantando maçãs ao invés de pensar o porquê delas caírem" (como dizia na propaganda)! E nisso comecei a observar: pode até ser que esse professor nem tenha vivido o suficiente para ver em que Newton se tornou. Ou até tenha visto. Mas o fato é que os frutos vieram. E para nós isso também vale.
   Deixa eu contar uma história simples que aconteceu comigo. Recebi, mais ou menos no meio do ano, um aluno chamado Alexandre* (seu nome verídico é outro). Ele sabia escrever seu nome, mas nada sabia das letras do alfabeto nem de números. Era esperto, cantava e conversava o tempo todo. Uma tarde com ele, aos olhos de outras pessoas, era algo que esgotava. Imagina para mim, que estava ali o tempo todo. O fato é que ele tinha uma vontade imensa de aprender, ficava atrás o tempo todo querendo entender os exercícios, mas tinha muita dificuldade. Muita mesmo. Mas resolvi não desistir. Era difícil, tinha horas que o que eu queria mesmo era largar de mão, mas sempre pensava em algo que me animava: “Não posso deixá-lo. Não sei quais serão os frutos lá na frente, se serão bons ou ruins, mas a minha parte tenho que fazer. Vai que é exatamente isso que fará toda a diferença em sua vida!”.
    Alexandre, com o tempo, começou a ver a lógica entre o som e as letras. Já fazia seus deveres com independência, com alguns erros, mas a cada dia dava um passo adiante.
   Ao final do ano, sua mãe veio conversar comigo. Disse que seu esposo, pai de Alexandre, havia voltado a estudar (um sonho seu) e, muitas vezes, ao ter dúvida nos deveres, perguntava a ela. Como estava sempre atarefada com algo, pedia a Alexandre para ajudá-lo, pois dizia: “Pede a seu filho, ele sabe mais que você”. Alexandre ia, ensinava a seu pai do seu jeitinho, mas estava ali, a seu lado. Seu pai consegue avançar hoje com a ajuda dele.
   Isso realmente me tocou: quanta diferença nós, professores, fazemos! Isso é apenas uma história simples. Imagine os outros alunos. Quanta diferença posso ter feito? Quanta diferença professores pelo Brasil afora não fazem, ajudando seus educandos das mais variadas formas, um exemplo para mim, que estou apenas começando.
   Será que o pai de Alexandre voltou a estudar incentivado por seu filho? Será que, nos próximos anos, estarão juntos nessa caminhada do aprendizado, chegando até, quem sabe, à faculdade? Não sei. Será que Alexandre será um Isaac Newton? Não sei, pode ser até que nunca saiba. Mas a verdade é que posso até não ver os frutos, mas sei que eles virão. Alexandre não precisa ser famoso, mas se fizer a diferença na vida de uma pessoa já me sinto realizada.
   Aliás, é o que eu como professora sempre peço em minhas orações: “Senhor, meu Deus, não sei quantos alunos passarão por mim nesses 25 anos que, se for da Tua vontade, terei nessa abençoada profissão. Pode ser que mais de 700! E tenho certeza que já sou uma professora muito abençoadinha por já ter passado três anos com alguns deles, ensinando e, mais até, aprendendo com eles todos os dias. Mas eu te peço que ao menos 1 deles faça a diferença onde quer que vá, no que quer que faça. Porque se pelo menos 1 fizer a diferença, o que esse aluno não poderá fazer pelo mundo? Pelo Brasil?”.
   Que nós, professores, nos sintamos sempre privilegiados por isso: lidamos com vidas e vidas são sempre surpreendentes. Não vamos desistir: vamos até o fim. Passaremos por decepções, cansaços, desrespeito, tristeza, mas sejamos firmes! Poderemos nunca ser famosos, mas fizemos nossa parte. Afinal, nosso esforço fará toda a diferença! Sempre!

2 comentários:

  1. com certeza. devemos fazer aquilo que gostamos, que sentimos prazer, e amar a nossa profissão, porque só é professor aquele que ama,ama e ama, só isso que posso dizer, porque o Amor traz consigo todos os outros preceitos. Muito lindaaa, beijão e que Deus nos abençoe em nossa jornada, sucesso pra todos nós e que esse amor puro e verdadeiro se renove todos os dias em nossas vidas
    Bjoss

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  2. Quando iniciei minha carreira também tive uma experiência marcante. Conheci uma menina da segunda série da escola que eu trabalhava. Eu ensinava a primeira. Ela tinha síndrome de down e fiquei sabendo que não avançava da série havia três anos.No ano seguinte fui para a turma da segunda série e ali estava ela, que tinha sido reprovada outra vez.Ela era muito doce, eu percebia a sua vontade de aprender. comecei a ajudá-la no que era possível.As vezes ela se atrasava na atividade e pedia para levar e fazer em casa. Um dia uma coleguinha dela me falou que tentou ajudá-la em casa mas ela disse que não podia, pois eu tinha confiado nela, então faria sozinha. Passaram-se alguns meses e para a surpresa de todos, ela aprendeu a ler.Começou então a avançar. A diretora achou que eu devia continuar com a turma e permaneci até a quarta série.Depois disso ela seguiu para a quinta série, concluiu o Ensino fundamental e o médio. Mudei de cidade e de escola.Quatro anos depois que minha aluna se formou, chegaram alguns alunos de uma universidade. Eles vieram me conhecer.Chegaram na escola onde trabalho e me disseram que estavam fazendo um projeto de Educação Especial e conheceram uma garota especial que foi convidada por um dos grupos e esta relatou a história de uma professora que fez a diferença quando acreditou que não há barreiras quando se faz um trabalho por amor.A minha garotinha estava lá, divulgando os meus frutos já amadurecidos. Que desses frutos venham novas sementes. Que Deus abençoe. Bejoss. Neide Leandro

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