quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Flores e espinhos pelo caminho

    Essa eu com certeza não poderia deixar de contar. Qual é o professor que nunca teve problema com algum pai de aluno? A história abaixo foi uma das melhores que aconteceu comigo (digo “melhores” porque teve um final feliz). Preparado para rir? Espero que sim!
   Primeiro, relatarei a parte boa. Em 2008, comecei a trabalhar em uma escola particular como estagiária. Era meu primeiro emprego e estava ansiosa para ver como uma sala de aula funcionava, já que meu curso de Pedagogia na universidade era teórico demais.
   O ano letivo começou e eu fui colocada em uma turma de Infantil V (crianças que fariam 5 anos no primeiro semestre ou 6 no segundo semestre). Mas, mais ou menos em abril, uma professora do Infantil IV (que irei chamar de S*) descobriu que estava grávida, teve alguns probleminhas e pegou atestados médicos. Os pais começaram a reclamar, pois, sempre que chegavam para buscar seus filhos, tinha uma pessoa diferente na sala com as crianças.
   Até que no início de maio a professora S* pegou 8 dias de atestado. A diretora, então, resolveu me colocar lá nesse período, mas acabou optando por me retirar definitivamente da sala em que eu estava e me mudar para a turma de S*. Trabalharíamos lado a lado e, se ela precisasse pegar mais algum atestado, eu estaria ali com a criançada.
   E assim realizei meu sonho: passei a ser professora! E como fui abençoada: foi difícil no começo (muito, na verdade), mas depois... Ah! Como amo até hoje aquelas crianças! Inclusive, já até escrevi sobre eles (na crônica “Dentes de leite”) e voltarei a falar outras vezes para, quem sabe, dar mais detalhes sobre a minha saída do Infantil V e esse começo no Infantil IV. Mas, por hora, voltemos à história. Então, a turma era ótima, mas nem por isso tudo era um mar de rosas...
   Primeiro, os pais já estavam bravos pelos filhos terem ficado mais de um mês sem uma pessoa só substituindo a professora. Para eles, houve um pouco de relapso por parte da escola. Mas quem, de certa forma, levou a culpa fui eu.
   Segundo, eles mal me conheciam. Viam-me como a “estagiariazinha” que foi promovida e nem tinha experiência. Uma “Zé Mané”. Mais uma vez: quem perdeu pontos? Eu.
   E tinha o que mais me preocupava: fazer com que as crianças gostassem de mim. Afinal, para eles tudo estava bagunçado também. E quem tinha de pegar essa responsa era... EU, mas peguei com o maior prazer! E Deus me abençoou grandemente!
   Então foi assim. Fui pouco a pouco conquistando as crianças, cada dia descobria mais desse universo encantador deles! S* voltou e trabalhamos juntas de maio até setembro, quando ela ganhou seu bebê, que nasceu de 6 meses. No dia seguinte, já recebi a notícia: “Lívia, toma que o filho é teu” (ou melhor, os filhos). É, nada mal para uma iniciante... Quando S* estava comigo, dividíamos tudo: correções de cadernos, murais e mais murais, relatórios. Mas, agora, para quem sobrou tudo isso? Eu!
   É, fácil não foi, mas Deus me abençoou e eu consegui graças a Ele! Aprendi na dor, mas aprendi. Ainda bem que tinham as crianças para fazer valer todo o esforço! Mas, em meio às flores, também cresceram espinhos...
   Veio outubro e eu estava bem empolgada, afinal, teria meu primeiro dia do professor! Mal sabia eu o que viria... Enfim, bem no inicio do mês, um aluno meu (que era muito inteligente, mas tinha um comportamento difícil) ficou com raiva (não me lembro do motivo), pegou seu copo de água e jogou em cima de IM* (colocarei apenas as siglas dos nomes), uma aluna minha bem gracinha (era a menorzinha da sala e bem meiga). Molhou a menina todinha! Esse foi o primeiro round, porque, é claro, quem é professor me entende: parece que quando algo errado acontece com um aluno, vai até ao final do ano.
   Na semana da criança, veio o segundo round. Eu e as outras professoras fizemos um rodízio e cada uma passava na sala da outra fazendo brincadeiras. Fui em minha sala e mandei um beijo para as crianças antes de passar para a próxima turma. E alguns alunos vieram correndo me abraçar. E entre eles IM. Quando ela virou para voltar à sala, PAH! Deu de frente com seu colega (o mesmo que jogou água nela), o qual também estava correndo para mim, e machucou seu rosto. Expliquei para seus pais, disse que foi sem querer (e foi mesmo), mas contentes não ficaram.
   E então veio o golpe fatal. Ainda na semana da criança, bem no dia do professor, IM estava brincando com Y, sua colega de classe. Observei as duas e virei para trás por apenas 3 segundos. Mas crianças não precisam nem de meio milésimo para fazer suas artes. De repente, só escuto um “BAH” no chão. O que tinha acontecido? Ha, adivinhem: Y pegou IM no colo, não aguentou e deixou-a cair no chão. De cabeça. Round 3.
   É. Pois é. Ela não chorou, não foi nada assim que deixasse um “galo”, mas, quando a criança bate a cabeça, os pais têm que ser comunicados imediatamente, mesmo sendo de leve. Bom, pelo menos era esse o procedimento na escola em que eu trabalhava (e, na verdade, acredito que tem de ser assim mesmo). Aí foi aquele fuzuê: tentei ligar várias vezes para o pai, não consegui falar. Quando ele ligou na escola, outra pessoa contou e ele ficou furioso. Liguei para a mãe, estava em reunião, teve que sair só para falar comigo e receber a notícia que sua filha, de novo, se machucou.
   Para mim, eles só demonstraram raiva, mas nada falaram. Mas para a direção: “Poxa, duas vezes na mesma semana? O que vai acontecer amanhã? Ela vai quebrar o braço, a perna?”. Fizeram um estardalhaço! Saíram contando a história para quem passasse perto deles. E, claro, a diretora veio me contar tudo. E não adiantava explicar que, mesmo que eu estivesse de olho o tempo todo, isso ia acontecer, criança se machuca, foi um acidente. Esquece. Ninguém quer saber disso. O que importava era que ela se machucou DUAS VEZES NA MESMA SEMANA!
   E, assim, meu primeiro dia do professor foi marcado por lágrimas. Claro que teve coisas boas, mas o fato é que o saldo foi, infelizmente, negativo.
   O bom, aliás, o ótimo, é que IM me amava! Gostava mesmo de mim e a recíproca era verdadeira. E os pais de IM sabiam. E eu não deixava que nada atrapalhasse isso. Por mais chateada que pudesse estar com os pais dela com o escândalo que fizeram (afinal, tudo não tinha passado de um susto - a queda não foi séria), decidi que a atitude deles não influenciaria a minha. E não influenciou mesmo: continuei tratando IM da melhor forma possível, mesmo quando outros problemas vieram. Sim, outros. Ah, você achava que tinha mesmo acabado? Hum-hum. Espere até a próxima crônica para saber o que aconteceu e como a história acabou!

Nenhum comentário:

Postar um comentário