sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Para a Manu ler (5)/ O fim/ O início

 


Filha, desde que fiquei grávida de você, parece que meu mundo ficou mais lento. Parei de correr na academia (não que isso fosse algo frequente hehehe). Não conseguia andar rápido para chegar nos lugares. Tudo parecia tão ligeiro. E eu devagar, nos primeiros meses sem barriga, mas muito cansada. E depois a barrigona me deixando mais lenta ainda. E mais cansada também hehehe. Mas o mundo seguia acelerado. E eu como espectadora vendo tudo tão agitado. Uma espectadora cansada e devagar.

Eu me lembro de ir em uma loja e pedir algo à moça. Ela saiu na frente para me mostrar em uma prateleira, que parecia estar na China. Ela chegou lá em segundos, e eu, quase em câmera lenta, falando atrás: Moooçaaaaa, espeeeraaaaaaa, cheguei após 2 anos. 

Tive você e pude voltar a correr (não que isso seja frequente hehehe), e andar rápido, e alcançar as pessoas e chegar onde quero em segundos. Mas a vida... a vida... continuou devagar. Definitivamente...  devagar... 

Porque é preciso parar e amamentar... E o feijão fica pra depois. Nossos sonhos serão deixados na prateleira... Ou serão construídos aos poucos porque agora é hora de parar. De brincar. Passar sua roupa. Ou lavar suas roupas. Hora de pausar o filme mil vezes e só rodar de novo quando você não estiver olhando.

Mas algo que não passou devagar foi minha licença maternidade. Tive o privilégio de ficar quase 10 meses com você, pituca. Mas mesmo assim passou tão rápido! Parecia tão longe. Eu dizia: É só em agosto.

Mas agosto começou a chegar perto.

Virou "mês que vem". Que virou "em 3 semanas". Que virou " semana que vem". Que virou "segunda agora". Por conta da pandemia, não saímos como eu gostaria. Mas fiz tantas coisas que eu nunca fiz ou fazia pouco...

Li, vi filme repetido no Tele Cine, estudei música enquanto você mamava. 

Passeamos juntas nos dias de trabalho do papai pelo calçadão, vendo o pôr do sol, e pensando na vida.

Fomos pra casa dos vovôs e conversamos na sala ou na garagem no final da tarde, comendo bolinho frito, enquanto eu fazia meu exercício de teoria e você brincava no tapetinho.

Dormimos juntas na caminha da mamãe de tarde, debaixo da coberta.

Um filme fica passando na minha cabeça. As primeiras vezes em que fiquei sozinha com você em casa (que medo!). Nossas primeiras saídas. Seus choros de recém-nascida quando saíamos de carro. Suas vacinas e o medo da febre que sempre aparecia algumas horas depois. As madrugadas nesses dias da vacina, medindo sua temperatura pra ver se tinha passado e se precisava tomar mais remedinho. A dificuldade na amamentação até tudo ficar bem. As idas à mastologista e Hmib, sempre calculando a hora do mamá. Nossas madrugadas juntas. Só eu, você e o silêncio. Nossas noites com a vovó quando o papai estava de serviço. 

A pandemia me fará trabalhar em casa por hora. Logo, ficaremos juntinhas ainda. Não como antes, pois mamãe vai precisar tirar um tempo pro trabalho também. Mas amei passar esses 10 meses me dedicando a você, meu amor. 10 meses em que eu praticamente parei minha vida por você: trocando fraldas, dando banho, fazendo sua comida todo dia, fazendo uma lista mental das horas de beber água e de você comer.

Foi lindo te ver se desenvolvendo. Rolando. Sentando. Se arrastando. Se pondo sentada. Ficando em pé nas coisas. Engatinhando. Começando a comer e fazendo a maior bagunça.

Fiz pouco por mim. Não malhei muito. Saí pouco sozinha. Foram raros meus momentos de solitude. Mas valeu a pena. E foi intenso. Rápido. E lento. Vá entender...

Um ciclo se fecha. Como o sol se põe em nossas tardes de passeio. Mas como ele também amanhece... algo novo está por vir. E enfrentaremos. Como sempre: juntas. 

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