sábado, 26 de dezembro de 2015

Abayomi

Assim que eu entrei como professora na Secretaria de Educação, eu me deparei com uma turminha “daquele jeito”. Muitos alunos difíceis, era um quarto ano da pesada mesmo.

Entre eles, havia uma aluna chamada Raquel (nome fictício). Ela era muito respondona, abusada que só. Eu brigava muito com ela, quase todo dia, pois ela sempre aprontava. Resumindo, sem medir as palavras: a gente se detestava. Essa era a verdade.

Mas teve um dia que foi feia a coisa. A gente discutiu mesmo, eu fiquei com tanta raiva que falei tudo o que não devia. Só não xinguei e falei palavrão, mas briguei muito, fiquei vermelha, chamei-a de abusada, disse que ela não tinha o menor respeito por ninguém, que ela não podia crescer assim, entre outras coisas. Quem é professora me entende, tem vezes que a gente sai do eixo. Expulsei Raquel de minha sala cuspindo fogo.

Na hora que eu me acalmei, eu pensei: Gente, o que foi que eu fiz? Ela é uma menina, eu sou uma adulta. Não é assim que eu resolverei as coisas. Nossa, que horror!

Enfim, naquele ano, eu dava aula de manhã e, em uma tarde, eu e meus colegas fomos a uma palestra muito bacana sobre o Dia da Consciência Negra. Lá, entre outras coisas, aprendemos a fazer uma bonequinha chamada Abayomi. Vou contar o que ela significa.

                                    
      Fonte: http://www.anniecicatelli.com/appel.htm


Segundo o site http://bit.ly/1SAx8Is (e o que eu aprendi no dia foi isso mesmo), elas era bonecas feitas pelas mulheres negras para acalmar seus filhos nas duras viagens nos navios negreiros, rumo a países onde seriam escravizados e levariam uma vida tão diferente da que estavam acostumados... Ela são feitas de pano, sem costura, apenas nós e muita criatividade. 

Mas o mais bacana é que, além de serem simples e muito lindas, elas tem um significado precioso. Quando você dá uma Abayomi a alguém, “esse gesto significa que você está oferecendo o que você tem de melhor para essa pessoa”. O nome Abayomi quer dizer “aquele que traz felicidade ou alegria”.

O mais legal é que ela é super fácil de fazer. Não creio nela como amuleto ou coisa do tipo, mas como símbolo de amizade. 

E, naquele dia, a palestrante propôs que oferecêssemos a Abayomi para alguém...

Então... Deus pôs no meu coração de dar a Abayomi a Raquel... Fiquei relutante, mas sabia que deveria fazê-lo. 

Cheguei no outro dia, chamei-a e dei a boneca, explicando seu significado. Disse que queria mudar e pedi perdão. Falei que não estava certo agirmos assim uma com a outra e que queria começar de novo com ela. E propus sermos amigas dali para frente.

Gente, impressionante! Eu mudei, ela mudou, e dali surgiu uma amizade até o final do ano. Conversávamos, ríamos juntas. No outro ano, ela mudou de escola, mas veio me visitar algumas vezes.

Só agradeço a Deus pelo privilégio de tê-la conhecido, ter participado de sua vida e por ela ter deixado marcas em mim! Hoje, não sei como ela anda. Mudei de escola, vim para mais perto de casa. Mas oro por ela... E espero que, onde quer que ela esteja, ela saiba que a amo muito e sou grata a Deus por ter permitido que nossas vidas se cruzassem. A Ele toda glória, sempre!

"Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também, Deus, em Cristo vos perdoou." Efésios 4:32

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