sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Dever de casa

Sabe, passar dever de casa não é fácil. Temos que escolher um por dia, e ele tem que ter ligação com o conteúdo, não pode ser só passar por passar não.

E tem outro problema: algumas vezes os pais não os ajudam. Algumas vezes não! Gente, eles quase não ajudam!!!! E olha que eu mando os mais fáceis possíveis exatamente para não dar tanto trabalho extra. 

Além disso, eu explico (tipo umas 100 vezes), praticamente dou a resposta, mas eles chegam em casa, esquecem tudo o que falei, aí o pai não sabe explicar (quando eles se dispõem a isso), aí volta tudo sujo, amassado, rasgado, e todo errado. Ou sem fazer, para minha alegria (só que não). 

Mas eu não desisto. Não mesmo. O dever de casa cria rotina, revisa o conteúdo dado, faz com que eles tenham responsabilidade. Corrijo todos, individualmente e coletivamente. E mando bilhete quando não fazem, pedindo assinatura do responsável.

Porém, confesso que fujo de passar deveres difíceis, porque já sei o resultado. 

Mas, um dia, estava dando o capítulo sobre casa e escola, no livro de Geografia, do Projeto Buriti para o 2° ano, e me deparei com este dever:



Pensei, pensei, pensei, e resolvi mandar. 

Mas me arrependi mil vezes! Já sabia no que ia dar e que poucos iam fazer... E, depois, vem a parte social... Poxa, muitos alunos meus não têm nem casa direito, o que dirá de um quarto... E eu passo um dever desses? 

Mas aí já tinha ido...

No outro dia, já estava esperando a bomba. Mas, como é normal na Educação, eu me surpreendi bonito! Todos fizeram (ok, duas não fizeram, mas levaram bilhete na agenda e trouxeram depois). Fiz uma rodinha e fui corrigindo com eles, mostrando os desenhos. Alguns caprichados, coloridos, outros só com rabiscos, mas eu vi que ali eles tentaram fazer o seu melhor (e o melhor de cada um é diferente do outro). 

Fiquei ouvindo suas histórias e muitas me tiraram sorrisos:

1) Meu aluno que divide sua cama com os dois irmãos. Ele fez o desenho com os dois de um lado, e ele do outro. Em hora nenhuma ele mostrou vergonha, só alegria. Um desenho bem simples, mas cheio de conteúdo.



2) Minhas alunas que disseram que a cozinha era seu lugar preferido, pois ali suas mães faziam bolo de chocolate. Hmmm como eu queria provar!

3) Outras alunas que disseram que sua parte preferida era o terreiro e o quintal, porque ali podiam brincar. Que privilégio! Enquanto muitas crianças ficam confinadas em suas casas, elas podem ser livres e brincar de verdade!

Tirei duas boas lições disso:

1) Uau, como eu aprendo com meus alunos. Eles conseguem tirar riqueza em meio a tanta miséria a que estão sujeitos. Eu me orgulho deles e me inspiro também: são gratos, não reclamam, são felizes, apreciam o que têm ao máximo...

2) Não devemos evitar passar um dever para nossos alunos só porque o julgamos difícil. Eles nos surpreendem sempre, e com isso não seria diferente. Este, por exemplo, nos proporcionou momentos divertidos e um crescimento no aprendizado. Tente, tenha coragem! Muitas vezes nossas desculpas são uma forma de encobrir uma preguiça de fazer algo diferente (estou falando a começar de mim).

Eu gostei da experiência e espero repetir! Tentem e se surpreendam também! Deus é bom e ama nos surpreender!

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