sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Inclusão – Um relato sobre A e RD

Ter um aluno com necessidades especiais na sala nos dá muitas lições. Dá trabalho, lógico, como tudo na vida. Requer um planejamento diferente, cansa mais, exige mais de nós... Mas ainda assim considero a inclusão deles uma boa, ou melhor, uma ótima. Não só para eles, mas para a turma como um todo.

Em todas as vezes que tive um aluno especial, sempre tive boas experiências. Normalmente, a turma o abraça, ajuda, não tem frescura, a gente tem é que brigar com eles, porque se deixar querem fazer tudo pela criança e "passam a mão na sua cabeça" hehe.

Confesso que estou em fase de aprendizado. Não tenho toda a paciência que deveria, a disposição, a alegria. Mas ter aluno especial não é opção, é realidade. É algo que todo professor deve se preparar e se acostumar. Mas eu ainda tenho um longo caminho pela frente...

E, lógico, minha turma me ajuda muito nisso. Foi assim com A. Ele era um aluno da manhã e veio para a minha turma por ela ser menor. Não tem um diagnóstico fechado (ainda esperamos os resultados dos exames, mas há a suspeita de um possível autismo em grau baixo), mas o fato é que ele demanda atenção. Muita atenção.

Ele precisa de tarefas mais simples. Poucos comandos. E só faz se eu estiver do lado apontando passo a passo. Ainda não reconhece os números até 10. Não sabe as letras do alfabeto, nem mesmo as de seu nome. Quase nunca fala e, quando fala, jamais o faz na frente dos outros colegas. Comigo, só pequenas frases e bem baixinho.

Confesso que é frustrante, sabe? Parece que rodamos e não chegamos a lugar nenhum. E confesso que não tenho muita paciência (já falei isso, mas preciso frisar hehe).

Mas aí conto com a ajuda de meus fiéis escudeiros. Em especial RD.

Ela é aquela aluna "tipo" top. Pega tudo com facilidade, lê e escreve bem, precisa até de atividades extras.

Mas isso não vem ao caso. Não é de sua inteligência que quero falar. É de seu coração.

Ela ama A. Ela elogia os pequenos progressos, seus desenhos, brinca com ele no intervalo, cumprimenta-o todos os dias (mesmo ele não a respondendo várias e várias vezes), tem paciência... Uau, que exemplo para mim!

Resultado: com ela, ele fala. Ele faz suas coisas e mostra para RD. É lindo de ver!

Ela tem me ensinado a ir no ritmo dele, no ritmo que ele dita. A tentar não me frustrar, porque minhas metas não são as dele, que cada vitória é um grande passo para A, mesmo que em minha concepção seja devagar.

Ele tem me ensinado a diminuir o passo e o impacto que uma amizade pode ter.

Olho para os dois juntos e vejo como A aprende com RD. E como RD aprende com A. Ela será um ser humano melhor, que não verá alguém com necessidade especial como incapaz, mas como uma pessoa cheia de possibilidades, superações e, claro, não poderia faltar o clichê: especial.

Por isso, apoio a inclusão e acredito nos seus benefícios para todos, inclusive para professores como eu, que se sentem limitados, incapazes, até mesmo despreparados para lidar com tudo isso, mas que podem superar os desafios com ajuda de seus alunos.

Isso é só um dos muitos ensinos que tenho em sala. Isso é um dos muitos presentes que eu recebo nessa profissão. Esse é só um dos muitos privilégios que tive desde que decidi ser PROFESSORA.







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