sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Uma visita à AJ

Tudo começou com uma falta. Depois duas, três... Achei estranho. Ela nunca falta. O que aconteceu?

Fui perguntar a seu irmão na escola:

- Oi. Cadê a AJ?
- Faltou.
- Jura? Eu sei. Quero saber o que aconteceu com ela.
- Ela estava com dor e foi para o hospital.

Ixi. Então foi sério. Os meninos desta escola são tão fortes! Os pais nem levam para o hospital porque eles se recuperam logo (e vamos combinar que esperar horas na fila faz qualquer doença piorar).

Passado mais um tempo, seu irmão chega com o atestado. 10 dias. Digitei o CID no Google e deu: convalescença após cirurgia.

- Apendicite, provavelmente, Lívia. Dá muito em criança-disse minha colega.

Mandei bilhete pedindo o telefone da mãe e querendo marcar um visita. Nenhuma resposta.

Resolvi ser “cara de pau”. Aproveitei um dia de passeio em que trabalhamos apenas pela manhã e a diretora marcou com o conselheiro tutelar para irmos juntos. Fechado.

Corri, peguei uma boneca que estava há um tempo guardada esperando a ocasião de ser dada a alguém, comprei um embrulho e um livrinho da Cinderela (pensei: ela tem que treinar leitura. São muitos dias de atestado. E será mais fácil porque já trabalhamos essa história em sala). E fui!

E o que era para ser uma tarde como outra qualquer se tornou um dia que ficará marcado em meu coração. Conheci sua casinha (simples, mas muito aconchegante), seus irmãos, sua mãe. Ouvi suas histórias, desabafos de uma vida difícil, seu desespero por não ter com quem deixar os filhos pequenos para levar AJ ao hospital...

- Não podia deixar minha filha morrer, professora.

Ouvi que ela ajuda muito sua mãe. Tomei um café maravilhoso que me deu energia para o resto do dia. Os minutos passaram que eu nem vi!

 Vi AJ lendo o livrinho e morri de orgulho em como ela avançou, derrubando os desafios que teve este ano com uma força que não vejo em muitos adultos, como eu, por exemplo. Ela é, de fato, uma vencedora, com todos os méritos e significados que esta palavra possa ter.

- Mas tem que ler E...
- Entender, professora. Já sei.

E abriu um sorriso.

Deu à boneca o nome de Vitória e ficou brigando com sua irmã para não pegá-la. Pensei: já está boa da cirurgia, já voltou até a brigar hehe.

Estava com saudades dessa minha menina brava. Despedi-me de todos, ouvindo de sua mãe:

- Tá cedo, professora.

Realmente, estava cedo. Queria ter ficado mais, pois a tarde estava muito agradável! Foi muito bom conhecer mais um pouco desta aluna que, definitivamente, tem deixado marcas em meu 2016 de uma forma única! Como Deus é bom e escreve certo por linhas certas, nada escapando de seu propósito!

Bênção servir a este Deus nessa profissão que Ele me presenteou! A Ele toda honra e glória!


Eu, AJ à direita e uma de suas irmãzinhas embaixo

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