sexta-feira, 29 de abril de 2016

Impaciência: nota dez!

Nas minhas férias no início do ano, eu resolvi fazer uma hortinha. Nunca entendi nada de plantas, mas queria aproveitar a varanda que tenho no apê e resolvi estudar um pouquinho sobre isso. Comprei um vasinhos coloridos, meu esposo colocou a estante e o mini-caixote, peguei a terra adubada e sementinhas de temperinhos super legais (assim, teria coisas orgânicas e ainda enfeitaria a casa).

Montamos e amava ver as bichinhas nascendo! Eu lia sobre hortas, via o tempo de exposição ao sol, vi que deveria por água duas vezes por dia, que tinha que ser com borrifador e não com regador... Na teoria, tudo ok!

Mas não deu certo... Elas até nasceram, mas secaram... Fui viajar e deixei os potinhos com meu pai, que tem “mão verde”. Quando voltei, replantamos as que não vingaram e ele fez “ressuscitar” a rúcula. E eu fiquei tipo: hã? O que você fez?

Ele começou a tirar onda, mas eu percebi o que era: água! Ele borrifava toda hora! Era isso! Na teoria eram 2 vezes por dia só... Mas, em Brasília, o clima é muito seco! Elas precisam de água toda hora que der para colocar, desde que não encharque.

Não adiantava saber a teoria, se na prática eu estava vendo as plantas secas e não fazia nada. Na minha cabeça, elas já haviam sido molhadas duas vezes e não “precisavam” mais.

Enfim... Esta história aparentemente não tem muito a ver com a de baixo, mas vamos lá...

Eu gosto muito do que faço, mas tenho um grave defeito: eu sou muito impaciente. E nessa, acabo falando bem alto com as crianças, e isso assusta, porque meu tom de voz é estridente, imagina quando eu brigo. Não acontece sempre, mas com mais frequência do que eu gostaria e não é legal. É algo que devo mudar.

Normalmente, eles se acostumam e nem ligam depois. Sabem que eu brigo, mas jamais faria algum mal a eles. E eu acabei me acomodando... Mas ainda bem que Deus não deixa as coisas ficarem assim...

Peguei uma turminha neste ano diferente. Eles não gostaram desse meu jeito. Não gostaram de mim. E isso só ficou visível após um episódio.

Uma aluna minha chegou duas semanas após o início do bimestre. Ela veio da manhã e era extremamente reservada. Já saquei a dela e pensei: com essa não poderei brigar.

Mas ela morria de medo de mim! Me perguntava as coisas já tremendo, com lágrimas nos olhos, e começou a chorar sempre na hora de ir à escola...

Aí, batata! Um dia, vi sua mãe na direção... Nem pediu para falar comigo e queria trocar a filha de turma. Não explicou o motivo...

A diretora disse que até insistiu se ela queria conversar comigo, se podia fazer algo. Mas não... Ela só queria trocá-la de turma.

Quando perguntei à minha aluna que era sua amiguinha o motivo, ela disse:

- Tia, ela quis sair daqui porque você briga muito!

- Mas eu nunca briguei com ela!

- Mas você briga e grita com os outros, e isso deixou ela com medo.

Fiquei arrasada... Ela estava completamente certa. Passei a tarde toda percebendo: eles tinham medo de mim! Nunca recebi pequenos desenhos que eles sempre fazem para a professora, não sentem liberdade de me abraçar, não se sentem à vontade para falar...

Eu era uma bruxa! Nossa, cheguei em casa super mal... Fiquei pensando nisso a noite toda.

E eis minha conclusão: não adianta estudar novas formas de aprendizagem, trazer surpresas, deixar a aula lúdica, com jogos que pesquisamos ou criamos, enfim, ser tipo nota 10 em tudo isso. Isso é super importante, mas se eu os trato com grosseria, não dou afeto, tudo irá por água abaixo, pois eles não vão gostar de mim!

Estava repetindo o erro que cometi na horta... Não adianta ter a teoria na ponta da língua, dizer que os amo, que faço tudo por eles, que amo o que faço, se na prática eu não demonstro. Afinal, amor é ação, não são só palavras. Eles não se sentiam amados... Não eram meus amigos...

Foi como com as plantas: as intenções eram boas, eu li, aprendi sobre elas, sabia como fazer... Mas na hora de aplicar, eu deixei as plantas morrerem. Estava na cara que era falta de água, mas eu confiei em meus “conhecimentos” de “regar só duas vezes”. Na prática, precisava mais.

Voltando às crianças, não adianta eu fazer cursos, me dedicar, trazer coisas novas, me achando “a capacitada”, pensando que isso é suficiente, se meus alunos, minhas crianças ficarem distantes de mim...

Enfim... Orei, pedi ajuda a Deus... Sozinha não posso mudar, e eu preciso. Eu quero. Por eles, por mim. Percebi enquanto orava que podia até achar que eu era nota 10 em algumas coisas... Mas se nas principais eu era nota 0, já era, não adiantava. Devo continuar com o que eu fazia, mas sempre respeitando e amando meus alunos...

Está difícil... Tenho evitado falar alto, sem mais paciente, não brigar, ser mais carinhosa. Falar é muito fácil, mas precisamos ser coerentes com nossas palavras.

A reflexão que quero deixar é: que bom se somos nota 10 em certos aspectos da nossa vida... Mas temos que ser nas essenciais, nas prioritárias, nas importantes.

Precisamos fazer essa revisão constante, senão corremos o risco de sermos legalistas como eram os fariseus tão criticados por Jesus, os quais davam dízimo de tudo, mas na hora de praticar a misericórdia, se esquivavam. Lembremo-nos das palavras de nosso Salvador:

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” Mateus 23:23

Estou nota zero em paciência e afetividade. Mas estou em uma escola. Sei que tenho excelentes professores, meus queridos aluninhos, e sei que, com reforço e projeto interventivo, irei melhorar para conseguir passar de ano!

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