sexta-feira, 1 de abril de 2016

Reunião de Pais

Uma das coisas que nós, professores, mais reclamamos em nossa profissão é a omissão dos pais. Eles não ajudam com o mínimo e isso não é novidade. Você com certeza já ouviu algum docente falar isso.  Eles não ajudam nos deveres; não se importam com a vida escolar deles (definitivamente, não é a prioridade); não educam as crianças e as jogam na escola para que a gente se vire; enfim, as reclamações são muitas, a lista é grande.

O dia em que isso fica realmente nítido é o da Reunião de Pais ou Responsáveis. Minha escola foi fechada e hoje funciona em um prédio alugado distante da comunidade. Logo, não vemos os pais quase nunca, a não ser nestas reuniões. Porém, quantas não são as vezes em que todo um ano se passa e não os vemos uma vez sequer....

Eu me revolto diante disso! Me desanima mesmo, me mata por dentro. A pessoa tem a oportunidade de ganhar um presente, um filho, e o cria “igual batata”: largado, jogado, sem apoio.

Há algumas semanas, fizemos a primeira reunião de pais do ano. Bilhete mandado com antecedência, crianças constantemente avisadas. Fizemos no sábado, exatamente para abarcamos mais pais, disponibilizamos ônibus que os trouxessem e buscassem até o novo local da escola. E nada: quase sempre a situação se repete. A maioria das salas com menos da metade de presença. Entre as ausências, justamente a daqueles alunos que mais precisam de atenção, pois seus casos são complicados.

Sei que todos têm compromissos e é impossível 100% de presença. Sei também que imprevistos acontecem. Mas estou falando de pessoas que faltam por motivos bobos. Se há algo mais importante do que seu filho, algum compromisso mais urgente do que saber como está seu aprendizado... Não sei, algo está bem errado. Faz-se necessária, urgentemente, a revisão de nossos conceitos.

Mas eis que, no meio da chateação dessa professora muito revoltadinha, surge uma luz... Ela se chama “exceção”.

Sim, ela existe! Ela acontece! Pais guerreiros, que me emocionam e ajudam a anestesiar a raiva que sinto dos tantos outros que não seguem seus exemplos...

Marias, Dayanas, Adrianas, Antônias, Joões... Eles não aceitam que a pobreza financeira os leve à pobreza de espírito. Sabem que o fato de não terem uma condição financeira abastada não é sinônimo de sujeira, uniforme encardido, falta de asseio, irresponsabilidade. Na sua simplicidade, mandam seus filhos limpos, arrumados, e não os deixam se ausentar por qualquer motivo, pois sabem que escola é prioridade. Entendem nossas cobranças, lutam para por um prato de comida na mesa, se esforçam para acompanhá-los nos estudos, pois sabem que, por meios deles, seus filhos irão além de onde eles conseguiram chegar.

Querem nos conhecer, admiram nosso profissionalismo, têm as mãos calejadas de tanto trabalhar, pois não comem o pão da preguiça... Vão às reuniões sabendo que terão que pagar mais horas no trabalho, levam o filho pequeno nos braços, trazem nos rostos as marcas das experiências da vida.

São pais que mandam bilhete explicando o motivo pelo qual o filho faltou e pedindo perdão porque perdeu a prova. São pais que não nos criticam quando ficamos doentes e pegamos atestado, deixando seus filhos alguns dias sem aula, pois sabem que somos seres humanos. Pais que correm atrás de atividades extras para seus filhos, ficam em filas só para conseguir uma vaga no Centro Olímpico, que trabalham um pouquinho a mais para ter aquele dinheirinho para assim sua filha fazer balé, seu sonho desde pequena, ou comprar o caderno de seu personagem favorito, pois sabem que isso lhes dará um sorriso.

Coincidência ou não, são os pais dos alunos que se destacam na sala: como alunos bons de conteúdo, prestativos e pró-ativos, ou pela sua educação. Não tem como fugir: criança acompanhada pela família é diferente. É nítido, não dá para esconder.

A essas exceções, que acredito e espero que se transformem em situações normais, o meu agradecimento. Num mundo em que ninguém quer fazer nem sua obrigação, vocês cumprem a de vocês com maestria. Graças a isso, uma professora ainda sorri acreditando no seu trabalho e no futuro da humanidade.

A vocês, dedico o Salmo 127, versículos 3 e 4:

“Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão. Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da mocidade”.

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